Em 1º de novembro de 1954, na Argélia, os independentistas cometem dezenas de atentados, resultando em centenas de mortos. O episódio ficou conhecido como “Dia Vermelho de Todos os Santos”.
Esses fatos sobrevêm em uma Argélia francesa não só recortada em diversos departamentos, mas também profundamente dividida entre 8 milhões de muçulmanos que tinham status de indígena e cerca de um milhão de cidadãos franceses.
Grandes diferenças de nível de vida e educação separavam as duas comunidades – no recenseamento de 1948 somente um entre dez muçulmanos declararam saber ler e falar francês. As clivagens sociais eram alimentadas e agravadas pela acirrada oposição dos europeus e assimilados a qualquer concessão política à maioria muçulmana.
Apesar dessa proporção demográfica, os independentistas, apelidados pelos europeus de “fellagha” (assaltante de estrada ou bandidos de ferrovias), não tinham respaldo consistente entre a população muçulmana.
Alguns meses antes, na Indochina, os franceses haviam sido derrotados pelo Vietminh. Os independentistas argelinos viam nisso um encorajamento para se lançar, por seu turno, na luta armada contra a potência colonial, embora constituíssem um exército minúsculo, algumas centenas se tanto, e quase totalmente desprovido de armamento.
Divididos em diversos partidos, conseguem formar, na primavera de 1954, um Comitê Revolucionário de União e de Ação (CRUA). Foi escolhida a data de 1º de novembro para desencadear a insurreição. Mais de 30 atentados, mais ou menos desordenados, tiveram lugar nesse Dia de Todos os Santos: colheitas incendiadas, postos policiais bombardeados, entre outros.
As duas primeiras vítimas, assassinadas na véspera, eram dois franceses da Argélia: um chofer de táxi de confissão judaica, Georges-Samuel Azoulay, e Laurent François, liberado do serviço militar seis meses antes.
Outras vítimas foram o agente florestal François Braun, o policial Haroun Ahmed Ben Amar e 4 militares: o soldado Pierre Audat e o brigadeiro-chefe Eugène Cochet, mortos em plena noite no posto militar de Batna, localizado no maciço de Aurès, assim como André Marquet e o tenente Darneaud. Foram igualmente mortos o caïd – juiz muçulmano – Ben Hadj Sadok e Guy Monnerot, que viajavam juntos.
A morte de Monnerot comoveu em particular a opinião pública. Este jovem professor tinha vindo da metrópole acompanhado da mulher para ensinar às crianças dos ‘bleds’ – povoados afastados. Seu ônibus foi atacado no desfiladeiro de Tighanimine. Foram retirados, junto com outros passageiros, do veículo e alvejados com uma rajada de metralhadora que tinha como alvo o caïd Hadj Sadok.
Monnerot faleceu no ato, mas sua mulher, Jeanine, sobreviveu aos ferimentos. Os matadores dos dois franceses tinham infringido a ordem de só matar o caïd, membro da elite muçulmana francófila. Mais tarde foram punidos por seus chefes.
O ministro do Interior, François Mitterrand, prometeu tomar todas as providências a fim de prender os “fora de lei”. Declarou enfaticamente em 12 de novembro de 1954: “De Flandres ao Congo, existe a lei, uma só nação, um só parlamento. É a Constituição e é a nossa vontade”.
Os atentados do “Dia Vermelho de Todos os Santos” tiveram pouca repercussão na imprensa e na opinião pública da metrópole. Nem sequer marcaram o começo da Guerra da Argélia, oito tormentosos anos que deixaram duradouras cicatrizes nas mentes e nos corações dos dois lados do Mediterrâneo.
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Grandes diferenças de nível de vida e educação separavam as duas comunidades