Em 16 de março de 1968, naquela que viria a ser a mais alarmante atrocidade de guerra cometida pelas tropas dos Estados Unidos no Vietnã, um pelotão de homens raivosos e frustrados da Companhia Charlie, da 11ª Brigada da 23 Divisão de Infantaria, matou com requintes de selvageria entre 400 e 500 aldeães desarmados em My Lai, um casario situado nas terras baixas costeiras do norte do Vietnã do Sul.
Segundo se informou, o massacre só foi interrompido quando o piloto de um helicóptero de observação, Hugh Thompson, aterrissou seu aparelho entre os militares norte-americanos e os sul-vietnamitas, que fugiam bloqueando e impedindo que os soldados prosseguissem em sua ação contra os civis locais.
O massacre foi acobertado, porém veio à tona um ano depois. Quando as notícias das atrocidades começaram a surgir, o aturdimento no establishment político dos EUA ficou notório. A cadeia de comando militar ficou paralisada e perplexa diante da reação da opinião pública norte-americana que se manifestou com indignação.
Foi o jornalista Seymour Hersh que, em novembro de 1969, publicou uma reportagem detalhando suas conversas com um veterano de Guerra do Vietnã, Ron Ridenhour. Ridenhour tinha ouvido falar dos acontecimentos de My Lai da boca de membros da Companhia Charlie. Antes de fazer as revelações a Hersh, tinha apelado ao Congresso, à Casa Branca e ao Pentágono para abrir inquérito.
My Lai estava situado numa região pesadamente minada onde as guerrilhas do Vietcong estavam firmemente entrincheiradas. Numerosos soldados desse pelotão norte-americano haviam sido mortos ou mutilados durante o mês precedente. O tenente William Calley, comandante da operação, liderava seus homens numa missão de busca e destruição.
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Massacre matou entre 400 e 500 vietnamitas de My Lai
A unidade entrou na aldeia e encontraram somente mulheres, crianças e idosos. Frustrados pelas perdas devidas às minas e aos franco-atiradores, os soldados descarregaram sua raiva sobre os habitantes do vilarejo. Durante o massacre que se seguiu, muitos dos idosos foram perfurados por baionetas. Algumas mulheres e crianças que rezavam no adro do templo local foram fuziladas na nuca e pelo menos uma menina foi estuprada antes de ser morta. Outros foram reunidos e levados a uma vala próxima onde foram executados.
Uma corte marcial investigou os acontecimentos e produziu uma lista de 30 pessoas que sabiam das atrocidades. Somente 14, inclusive Calley e o comandante da companhia, o capitão Ernest Medina, foram acusados dos crimes. Todos, ao final, tiveram sua culpabilidade revogada e foram absolvidos pelas cortes marciais, com exceção de Calley, julgado condenado de ter pessoalmente assassinado 22 civis e sentenciado a prisão perpétua.
Sua sentença foi posteriormente reduzida a 20 anos pela Corte Militar de Apelação e novamente a dez anos pelo secretário de Defesa. Considerado por muitos como um bode expiatório, foi–lhe concedida liberdade condicional em 1974 depois de ter cumprido apenas um terço de sua pena de 10 anos.
Quando os detalhes de My Lai chegaram ao conhecimento público, sérias questões afloraram concernentes à conduta dos soldados norte-americanos no Vietnã. Uma comissão militar, que investigou o massacre, encontrou falhas disseminadas de liderança, de disciplina e baixa moral das tropas combatentes.
Calley, que estava desempregado quando alistou-se e havia abandonado a escola de ensino médio, após ganhar liberdade, contrariando parte da opinião pública, abriu uma empresa de segurança privada.