Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno, ou simplesmente Theodor Adorno, filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor alemão, morreu em Visp, na Suíça, em 6 de agosto de 1969. Foi um dos expoentes da chamada “teoria crítica da sociedade” da Escola de Frankfurt juntamente com Max Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas e outros.
Filho de um comerciante judeu-alemão e de uma cantora corso-genovesa, nasceu em 11 de setembro de 1903. Em 1924 graduou-se em filosofia pela Universidade de Frankfurt com a tese Die Transzendenz des Dinglichen und Noematischen in Husserls Phänomenologie, e em 1931 se doutorou com o trabalho Kierkegaard (Construção do Estético).
Com a ascensão do nazismo foi obrigado a emigrar, primeiro a Paris, depois a Oxford e finalmente a Nova York. Regressou à Europa quando terminou a guerra e, em 1950, retomou suas aulas de filosofia e sociologia no Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt.
Além da estimulante amizade com Siegfried Krakauer e com Walter Benjamin, que influenciaram sua obra, foi decisivo o encontro com Max Horkheimer, com quem manteve uma longa e frutífera colaboração na revista do Instituto, que culminou com a coautoria de A Dialética do Esclarecimento (1944).
Quanto ao seu interesse pela musicologia, teve grande importância sua relação com a vanguarda musical vienense – Schönberg, Alban Berg, Steuermann. As considerações sociológico-musicais que desenvolveu em Filosofia da Nova Música (1949); Pesquisa sobre Wagner (1952); Dissonâncias: Música de um mundo administrado (1956); Mahler (1960) constituem parte substancial de sua obra teórica.
Valorizando a dissonância ante o ouvido convencional, Adorno se propõe observar o potencial utópico que esta introduz, uma vez que a música também expressa as contradições da sociedade, levando à crise o estatuto do existente e convertendo-se assim num protesto contra a falta de liberdade e uma tendência a um futuro distinto.
No plano filosófico e sociológico os dois temas centrais da reflexão crítica de Adorno são, de um lado, a impiedosa lucidez frente às tendências predominantes da realidade moderna e, por outro, a tensão utópica a uma dimensão “outra” do presente coisificado e alienado, se bem que a recuse e a declare impossível. Como consequência de uma formação dialético-hegeliana, Adorno confirma a importância da “negação” como instrumento da crítica à sociedade.
Em Dialética do Esclarecimento, que oferece uma radiografia da moderna sociedade de massas, em especial da norte-americana do pós-guerra, já se desenha o horizonte do homem contemporâneo envilecido pela “indústria cultural”, com suas falazes liberdades e pelo mito da racionalidade científica que se entrelaça com o domínio e cuja função libertadora resulta sufocada cada vez por um totalitarismo mais ou menos explícito. Daí sua constante polêmica com o pensamento instrumental, com o culto da exatidão e com qualquer forma de historicismo progressista.
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Adorno foi um dos expoentes da chamada ‘teoria crítica da sociedade’ da Escola de Frankfurt
Esses temas são desenvolvidos ademais na fascinante colagem de aforismos intitulada Minima Moralia (1951), no ensaio sociológico A personalidade autoritária (1950), em sua Dialética negativa (1966) e em Stichworte Kritische Modelle (1969).
No plano filosófico, junto à releitura do pensamento hegeliano de Três Estudos sobre Hegel (1963), que teve o mérito de abandonar o intectualismo abstrato do Esclarecimento sem cair na idealização da razão dialética, a intervenção de Adorno se caracteriza pelo repúdio da fenomenologia à qual, no ensaio intitulado Zur Metakritik der Erkenntnistheorie (1968), acusa de abstração e distanciamento das contradições histórico-sociais, bem como de uma suspeita constante de irracionalismo.
A função dialético-negativa, inspirada a princípio pelo rechaço do que é em nome do que ainda não é, apoia também a crítica adoniana da cultura e suas intervenções na literatura, recolhidas em Prismas. Crítica cultural e social (1955) e nos quatro volumes de Notas de Literatura (1958 e 1974).
Pouco antes de morrer, Adorno terminou uma teoria estética, publicada postumamente (1970) em que reafirmou uma vez mais a urgência do nexo entre crítica e utopia. A arte só se justifica como recordação dos sofrimentos acumulados no transcurso da história, exigindo um resgate da vida “ofendida” e um ato de reparação a ela, em virtude de um futuro qualitativamente distinto.
Durante seu exílio nos Estados Unidos, Adorno colaborou com Frenkel-Brunswik, Levinson e Sanford numa investigação fundamental sobre a psicologia do antissemitismo, A personalidade autoritária (1950).
A contribuição de Adorno nesta obra se apresenta na conheca elaboração das escalas de medida das tendências fascistóides potencialmente presentes inclusive entre os membros de sociedades democráticas, como a norte-americana, atitudes ligadas ao preconceito e a adesão a modelos de comportamento estereotipados e conformistas.
A crítica da sociologia positivista deixou sua marca em Sociológica (1956), escrita em colaboração com Horkheimer. Para Adorno, esta sociologia, ligada ao detalhe, perde de vista a realidade social, o que a priva de uma orientação racional que esteja centrada nas necessidades primárias da existência.
Em seus Escritos Sociológicos (1972), Adorno insiste na importância de aplicar o método dialético ao conhecimento da sociedade contemporânea como o único capaz de escapar da imagem petrificada que esta oferece de si mesma.
Outra obra de interesse sociológico é Sociologia da Música (1962), cabendo citar também Impromptus.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.