Durante uma transmissão ao vivo em rede de rádio e televisão, levada a cabo em 15 de julho de 1971, o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, deixou a nação atônita ao anunciar que pretendia visitar a China comunista no ano seguinte. O anúncio marcou uma dramática guinada nas relações Washington-Pequim, bem como uma das mais significativas mudanças na política externa da Casa Branca.
Nixon nem sempre se manifestou entusiasmo em visitar a China. Desde que os comunistas chegaram ao poder no país asiático, em 1949, Nixon foi um dos mais principais críticos dos esforços norte-americanos no estabelecimento de relações diplomáticas com os chineses.
Sua reputação política alicerçou-se no princípio do anticomunismo e ele foi importante figura durante os anos de macarthismo, período da chamada Ameaça Vermelha do pós-Segunda Guerra Mundial.
Contudo, em 1971, uma série de fatores empurrou Nixon a rever sua postura em relação a Pequim. Em primeiro lugar, e antes de mais nada, a Guerra do Vietnã.
Dois anos após prometer ao povo norte-americano uma “paz com honra”, Nixon permanecia no atoleiro do Vietnã, como sempre. Seu conselheiro para a Segurança Nacional, Henry Kissinger, via uma saída. Desde o rompimento da China com a União Soviética em meados dos anos 1960, os chineses buscavam desesperadamente novos aliados e parceiros comerciais.
Kissinger objetivava utilizar a promessa de relações mais estreitas e perspectivas de aumento do comércio bilateral para botar pressão crescente sobre o Vietnã do Norte – um aliado da China – e alcançar o estabelecimento de uma paz aceitável.
Flickr
O anúncio de Nixon marcou uma das mais significativas mudanças na política externa da Casa Branca
Igualmente – e mais importante a longo prazo – Kissinger imaginava que a China poderia tornar-se um poderoso aliado contra a União Soviética, inimigo da Casa Branca durante a Guerra Fria. Kissinger costumava chamar essa política externa de ‘realpolitik’, isto é, políticas que permitiam negociar com outras nações poderosas de modo pragmático, em vez de tratá-las com base em doutrinas políticas ou éticas.
Nixon, então, deu início a um longo e gradual processo de normalização das relações entre a República Popular da China e os Estados Unidos. Embora esse passo tenha ajudado a reviver a combalida popularidade de Nixon e contribuído para a sua vitória eleitoral em 1972, não produziu os resultados de curto prazo esperados por Kissinger.
Os chineses pareciam ter pouca influência sobre a estratégia dos negociadores do Vietnã do Norte, de modo que a Guerra do Vietnã prosseguiu interminável até a retirada dos Estados Unidos em 1973, amargando o pó da derrota. Além do mais, a incipiente aliança Pequim-Washington teve pouco impacto sobre as relações entre o Kremlin e a Casa Branca.
Contudo, a visita de Nixon pavimentou o caminho para que os presidentes seguintes pudessem aplicar os princípios da ‘realpolitik’ em suas acordos internacionais, privilegiando sempre os interesses geoestratégicos dos Estados Unidos.
Também nesta data:
1606 – Nasce o grande mestre da pintura Rembrandt van Rijn
1904 – Morre o escritor russo Anton Tchekhov
1963 – Declaração soviética provoca ruptura com chineses
1974 – Golpe de Estado depõe presidente do Chipre
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.