Durante uma ceia no complexo residencial Casa Azul, Park Chung-hee, presidente da Coreia do Sul, é assassinado em 26 de outubro de 1979, após exercer um poder ditatorial por quase 18 anos.
O crime foi articulado por Kim Jae-kyu, diretor da ACIC (Agência Central de Inteligência da Coreia) e chefe da segurança do presidente, que disparou no peito e na cabeça de Park. Além do presidente, que morreu quase que imediatamente, também faleceram quatro de seus guarda costas e o motorista.
A ACIC, criada em 1961, tinha como função reprimir toda e qualquer oposição interna ao regime de Park por meio de grampos telefônicos, prisões e prática arbitrária de tortura. A agência também ficou conhecida por seu envolvimento em manobras políticas com o objetivo de debilitar a oposição por meio de suborno, chantagem e ameaças.
O que motivou o assassinato de Chung-hee
Em 1972, Park fez aprovar uma constituição que assegurava sua ditadura vitalícia através da abolição do voto direto para presidente. Em substituição, estabeleceu um sistema de voto indireto, que lhe concedia a prerrogativa de emitir decretos de emergência, suspender a constituição vigente e lhe fornecia a autoridade para nomear e destituir juízes e parlamentares.
Seu último dia de vida foi particularmente turbulento. Levantes populares se estendiam pelas principais cidades do país, inclusive na capital Seul, por conta do crescimento da oposição, derrotada nas eleições de 1978 por apenas 1,1% dos votos.
Kim, ao advertir o presidente do ocorrido, obteve como resposta que Park daria ordens às forças de segurança de disparar contra os manifestantes se a situação piorasse. Enquanto Park se via frente a uma crescente oposição, as intrigas se instalaram no interior do palácio presidencial, principalmente entre Kim Jae-kyu e o ex-diretor da agência, Cha Ji-chui.
No dia do assassinato, Park e sua comitiva participavam da inauguração de uma represa em Sap-gyeo-cheon e uma estação transmissora de televisão em Dang-jin. Esperava-se que Kim acompanhasse o presidente no mesmo helicóptero. No entanto, o chefe dos guarda-costas, Cha, impediu-o de subir no aparelho, irritando Kim, que desistiu de seguir viagem. Ao final da visita, Park instruiu seus assessores a preparar mais um de seus numerosos banquetes para a noite do mesmo dia.
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Park Chung-hee, presidente da Coreia do Sul, exerceu poder ditatorial por quase 18 anos
Durante a ceia temas políticos foram discutidos. Park chegou a censurar Kim por não ser suficientemente repressivo para fazer face às manifestações. As críticas de Park irritaram Kim, que saiu da sala de jantar e se dirigiu ao seu chefe de gabinete e ao diretor adjunto, dizendo: “hoje é o dia”.
Kim retornou à sala de refeições carregando uma pistola semiautomática. Disparou contra o peito e a cabeça de Park, e efetuou outros disparos até o momento em que a arma travou. Kim apanhou então outra pistola com um de seus subordinados e tornou a atingir Park na cabeça e o chefe dos guarda costas no abdômen. Park foi levado ao hospital por seu secretário, chegando praticamente morto.
Kim foi preso e, assim como os demais envolvidos no assassinato, sofreu tortura e acabou por revelar detalhes da trama. Dentre as revelações, o envolvimento de uma nova figura, Chun Doo-hwan, que aparentemente submetia a ACIC sob seu estrito controle, surpreendeu a todos.
Diante do tribunal, foram apresentados os motivos que cercaram o assassinato do presidente. Park prometera que a eleição presidencial de 1971 seria seu último mandato e, ao romper a promessa e ratificar a Constituição que garantia sua ditadura vitalícia, decepcionou profundamente Kim, que começou a articular estratégias para derrubá-lo do poder.
Documentos secretos obtidos pelos EUA revelaram que Kim ajudava financeiramente a família de Jang Jun-há, respeitado líder da oposição. Esse dado derrubou a suposição então vigente de que a CIA estaria por trás do assassinato de Park com a finalidade de evitar o desenvolvimento de armamentos nucleares por parte da Coreia do Sul.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.
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