O governo dos Estados Unidos liberou, em 19 de fevereiro de 1981, um relatório detalhando como a “insurgência em El Salvador foi progressivamente se transformando em um caso clássico de agressão armada indireta pelas potências comunistas”.
O relatório era mais um passo a indicar que a nova administração de Ronald Reagan se preparava para adotar medidas fortes contra o que percebia como uma ameaça comunista na América Central.
Quando o presidente Reagan tomou posse em 1981, viu-se, segundo a perspectiva dos interesses estratégicos dos Estados Unidos na região, diante de dois problemas particularmente sérios. Na Nicarágua, a administração Reagan estava preocupada com o regime sandinista, após a tomada do poder pela FSLN (Frente Sandinista de Libertação Nacional) em 1979, derrubando o ditador Anastásio Somoza e sua longa e sanguinária ditadura.
FORTALEÇA O JORNALISMO INDEPENDENTE: ASSINE OPERA MUNDI
Em El Salvador, o governo de Washington atentava para a encarniçada guerra civil entre o governo pró-americano e os rebeldes da FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional). A violência brutal dos militares salvadorenhos, que incluiu o sequestro e assassinato de quatro missionários norte-americanos em 1980, levou o presidente Jimmy Carter a cortar assistência ao país.
Os altos funcionários do governo Reagan estavam convencidos de que, nos dois países, a União Soviética era a catalisadora dos problemas. Para tratar da situação na Nicarágua, o governo dos Estados Unidos começou a prestar assistência secretamente às chamadas forças rebeldes Contras que se opunham ao governo sandinista e que estavam baseadas principalmente em Honduras e Costa Rica. Para El Salvador, o relatório de 19 de fevereiro era a primeira saraivada.
O memorando do Departamento de Estado indicava que “a direção política, organização e armamento da insurgência salvadorenha está coordenada e bastante influenciada por Cuba, com um ativo apoio da União Soviética, da Alemanha Oriental, Vietnã e outros Estados comunistas.” Em seguida, apresentava uma “cronologia” do envolvimento comunista em El Salvador.
Em resposta a essa inferida ameaça, os Estados Unidos incrementaram dramaticamente sua assistência militar ao governo de El Salvador, enviando conselheiros às Forças Armadas salvadorenhas e começando uma série de “manobras de treinamento” da Guarda Nacional no país e em sua vizinhança. Sem surpresa alguma, o conflito descambou rapidamente com ações de sequestro, tortura e assassinato por parte, fundamentalmente, da Guarda Nacional. Durante os anos 1980, a assistência militar dos Estados Unidos chegou a quase cinco bilhões de dólares da época, porém a violência e a instabilidade continuavam inalteradas.
Em 1992, as Nações Unidas e o presidente da Costa Rica, Oscar Arias, arbitraram um acordo entre as partes em conflito em El Salvador. Uma comissão especial das Nações Unidas condenou também os Estados Unidos por cumplicidade com as atrocidades cometidas pelos militares salvadorenhos.
O presidente George Bush, que serviu como vice-presidente no governo Reagan, fez pouco caso das acusações da ONU e afirmou, para espanto geral, que “a paz em El Salvador era conseqüência da vigorosa resposta dos Estados Unidos à subversão comunista no hemisfério ocidental.”
Wikicommons
Protesto contra intervenção norte-americana em El Salvador em Chicago, em 1989