Com a eclosão do conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas em 7 de outubro, entender o contexto dos ataques e da guerra travada apenas por meio das noticias e atualizações pode ser difícil. Por isso, Opera Mundi separou uma lista de 13 livros para quem deseja aprender mais sobre a resistência palestina aos ataques israelenses:
Palestina, de Joe Sacco
Se você quer entender o contexto histórico que desagua nos conflitos atuais entre Israel e Palestina, mas não gosta de leituras acadêmicas ou pesadas, o livro Palestina (2021, editora Veneta), de Joe Sacco é uma ótica dica.
A obra é classificada na categoria “jornalismo em quadrinhos”, contando a história de mais de 100 palestinos e judeus no início dos anos 1990 na região da Faixa de Gaza e Cisjordânia.
Apesar de seu recente lançamento, essa edição é a reunião de todas as nove HQs lançadas entre 1993 e 1995, vencedoras de um dos prêmios para quadrinhos mais importantes do mundo, o American Book Award de 1996.
Notas sobre Gaza, de Joe Sacco
Mais uma sugestão do jornalista Joe Sacco: em Notas sobre Gaza (2010, editora Quadrinhos na Cia), o autor volta `à Faixa de Gaza para resgatar à memória o conflito de novembro de 1956, nas cidades de Khan Younis e Rafah, onde centenas de civis palestinos foram mortos pelo exército de Israel.
A história, esquecida pela sociedade e com diversas versões conflitantes entre si, é resgatada por Sacco e trazida à reconstrução para que um dos eventos mais marcantes na história desse conflito fosse bem explicado.
Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência, de Sayid Tenório
O argumento de Israel como “Terra Prometida” aos judeus é altamente utilizado quando o conflito com os palestinos é discutido. Como se posicionar diante de uma promessa conhecida como divina?
O jornalista e fundador do partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Milton Temer, afirma que Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência (Editora Anita Garibaldi) busca “desmistificar o pertencimento da Palestina Histórica aos atuais ocupantes israelenses”.
A obra une história e religião, evidenciando que o conflito atual, ao contrário do que muitos acham, não é uma questão político-religiosa entre judeus e palestinos (cristãos e muçulmanos), mas sim um problema que se tornou muito mais grave quando a Organização das Nações Unidas dividiu a região, ocupada por muçulmanos, permitindo a criação do Estado de Israel, mas nunca reconhecendo o Estado Palestino.
O Hamas, grupo palestino responsável pelos ataques a Israel em 7 de outubro, também é mencionado na obra de Tenório, tendo seu surgimento e ascensão à política na Faixa de Gaza explicados.
Caminhos divergentes, Judith Butler
Judith Butler é conhecida por sua militância relacionada à teoria queer e à identidade de gênero, mas em Caminhos divergentes (2017, editora Boitempo), a autora se dedica a pensar em soluções para o conflito no Oriente Médio.
Criticando o sionismo com as próprias filosofias judaicas, Butler evidencia que as ações de Israel em Gaza são de violência estatal, ilegítimas, nacionalistas e racistas.
A autora resgata diversos teóricos e pensadores para pensar um futuro para os palestinos, levando em consideração convivência democrática, direitos dos despossuídos e coabitação.
Gaza: terra da Poesia, de jovens poetas da região
O que não poderia faltar nesta lista são obras sobre Gaza escritas por autores nascidos em Gaza, por isso apresentamos Gaza, terra da poesia (2022, editora Tabla).
Os escritos de Amal, Mona, Fatima, Hiba, Bassman, Muhammad, Hachim e tantos outros trazem sua maturidade antecipada pela urgência que o conflito exigiu.
Ler esta obra não apenas ensina Gaza no espectro de quem nasceu lá, mas também permite a arrecadação de doações com os ganhos das vendas para o Tamer Institute for Community Education, uma ONG sediada em Ramalah, na Palestina, que trabalha com literatura e educação em todo o território.
Memória para o esquecimento, de Mahmud Darwich
Madmud Darwich foi um poeta palestino de grande referência no mundo árabe, e escreveu em Memória para o esquecimento (2021, editora Tabla) sobre um dia específico de agosto de 1982: quando o exército de Israel invadiu a cidade de Beirute, no Líbano.
Apesar da escrita em prosa, a obra surpreende com o estilo criativo de Darwich, que explora diversos recursos literários, ao mesmo em que traz reflexões históricas e memória pessoais daqueles que viveram a história.
“Memória para o esquecimento é uma homenagem a um povo que há mais de 70 anos “rexiste” ― com coragem, criatividade e resiliência ― à opressão e ao colonialismo”, destaca a sinopse.
A cicatriz de David, de Susan Abulhawa
Em A Cicatriz de David (2008, editora Record), Susan Abulhawa conta a história de Ismael, um menino morador do campo de refugiados palestino em Jenin até o dia em que um soldado de Israel o sequestrou para ser seu filho. Deste momento em diante, Ismael passa a ser chamado David.
Criado por pais judeus nos preceitos da religião, 20 anos depois David luta pelo exército sionista e encontra-se com Yousef, irmão de quem foi separado na infância e luta ferozmente pela causa palestina.
O azul entre o céu e a água, Susan Abulhawa
Em mais uma indicação da jornalista palestino-americana Susan Abulhawa, O azul entre o céu e a água (2017, editora Bertrand Brasil) fala sobre o cotidiano de uma família palestina em Beit Daras, com foco nas mulheres. O clã não esperava o terror sionista, que se revelou quando os soldados israelenses ocuparam sua vila. A partir daí, é necessário encontrar um caminho seguro para um campo de refugiados.
Dez mitos sobre Israel, de Ilan Pappé
A obra do historiador Ilan Pappé, filho de imigrantes judeus alemães, explora os “dez mitos” que são “repetidos interminavelmente na mídia e aceitos sem questionamento pela maioria dos governos do mundo” sobre o status quo de Israel.
Em Dez mitos sobre Israel (2022, editora Tabla), o autor “analisa também os mitos em torno dos motivos do fracasso dos Acordos de paz de Camp Davis e das razões oficiais dos ataques a Gaza”, além de mostrar porque a tão defendida solução de dois Estados não é mais viável, mostra a editora.
A Tabla está disponibilizando o e-book de forma gratuita até 31 de outubro. De acordo com a editora, a medida é uma “resposta à abordagem enviesada da grande mídia, que insiste em ocultar a existência e a resistência palestinas”.
Para ter acesso ao e-book, basta acessar o link e escolher a plataforma de sua preferência para realizar o download da obra: https://editoratabla.com.br/catalogo/dez-mitos-sobre-israel/.
A limpeza étnica da Palestina, de Ilan Pappé
Illan Pappé é um dos chamados “novos historiadores”, um grupo israelenses que “revolucionou profundamente o conhecimento sobre a história da Palestina, do sionismo e do Estado de Israel”. Por isso, merece ter mais uma indicação em nossa lista: A limpeza étnica da Palestina (2021, editora UCG Books)
Este ensaio de Pappé mostra os preparativos de Israel antes de expulsar 750 mil palestinos do recém-criado Estado israelense em 1948, como um verdadeiro estudo com documentos sionistas.
Com esta obra, é possível entender o paradigma da guerra sendo substituído pelo paradigma da limpeza étnica na Palestina.
A questão da Palestina, de Edward Said
Edward Said é um autor palestino-americano, referência na resistência palestina. Na obra A questão da Palestina (2012, editora Unesp), faz um grande resgate dos conflitos no Oriente Médio (Líbano, Guerra do Golfo e Revolução Iraniana), e também analisa processos geopolíticos no Leste Europeu e a libertação da África do Sul com Nelson Mandela.
Este é um grande estudo para entender como demais conflitos na região ― mesmo que distantes mas com características similares ― nos ajudam a entender a situação na Palestina.
A invenção do povo judeu, de Shlomo Sand
Um dos grandes argumentos do lado isralense na atual guerra é a questão religiosa, do “povo de Deus” e da “Terra Prometida”. Sendo judeu, Shlomo Sand questiona em A invenção do povo judeu (2011, editora Benvirá) a identidade judaica como nação.
Com a exposição do autor, é possível pensar em um Estado de Israel que deveria reconhecer habitantes israelenses ou palestinos, uma vez que questiona a “origem única” que a nação acredita.
Ideologia e propaganda na educação: a Palestina nos livros didáticos israelenses, de Nurit Peled-Elhanan
Sendo Nurit Peled-Elhanan professora israelense, entende bem sobre o poder que a educação escolar tem na formação da opinião social e pública. Assim, escreve Ideologia e propaganda na educação: a Palestina nos livros didáticos israelenses (2019, editora Boitempo) para mostrar como a Palestina é retratada no sistema didático de Israel, com uma vasta diversidade de recursos verbais e visuais, que ensinam violência, desprezo e intolerância contra palestinos.