O ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe não resistiu aos ferimentos graves provocados por um ataque a tiros nesta sexta-feira (08/07) quando realizava um comício eleitoral em Nara (oeste) e sua morte foi confirmada nesta manhã. O atentado contra o ex-chefe do executivo do Japão despertou fortes reações entre os líderes internacionais.
“Fiquei sabendo que ele estava em estado muito grave (…). É um ato bárbaro em plena campanha eleitoral, que é a base da democracia. É absolutamente imperdoável”, declarou o atual primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, durante uma coletiva de imprensa no início da tarde. Visivelmente emocionado, Kishida disse que “orou” pela sobrevivência de Abe, seu ex-mentor político e de quem foi ministro das Relações Exteriores de 2012 a 2017.
De acordo com a emissora estatal NHK, Abe foi levado inconsciente ao hospital e teve uma parada cardiorrespiratória – o que, no Japão, indica a ausência de sinais de vida e geralmente precede um atestado de óbito oficial.
O ex-chefe do executivo de 67 anos estava fazendo um discurso no final da manhã perto de uma estação de trem em Nara durante um comício de campanha antes das eleições para o Senado, que acontecem no próximo domingo (10/07), quando tiros foram ouvidos, informaram a emissora nacional NHK e a agência de notícias Kyodo.
Um homem de cerca de 40 anos foi desarmado e preso por tentativa de homicídio, de acordo com a NHK, citando fontes policiais. Para diversos meios de comunicação locais, o suspeito é um japonês de 41 anos que, no passado, pertencia à Força Marítima de Autodefesa Japonesa, a Marinha nipônica.
Estrondo e fumaça
Em imagens da NHK que mostram o momento do ataque, Abe é visto em pé em um palanque, quando, em seguida, pode-se ouvir um estrondo, além de se ver fumaça no vídeo. Enquanto os espectadores, surpreendidos pelo ataque, se abaixam, algumas pessoas derrubam uma outra no chão.
O ex-premiê “estava fazendo um discurso e um homem veio por trás”, disse à NHK uma jovem no local. “O primeiro tiro parecia um brinquedo. Ele [Abe] não caiu e houve um grande estrondo. O segundo tiro era mais visível, você podia ver a faísca e a fumaça”, disse ela. “Depois do segundo tiro, as pessoas o cercaram e lhe fizeram uma massagem cardíaca”, ela testemunhou.
Abe desmaiou e sangrava no pescoço, disse à agência de notícias Jiji uma fonte do Partido Liberal Democrático (PLD), de direita nacionalista. Autoridades locais do PLD informaram não terem recebido nenhuma ameaça antes do ataque e que o discurso de Abe foi anunciado publicamente.
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Ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe não resistiu aos ferimentos graves provocados por um ataque a tiros nesta sexta-feira
Ex-líder do PLD, Abe foi o primeiro-ministro japonês que permaneceu no poder por mais tempo. Ele ficou no cargo em 2006, depois novamente de 2012 a 2020, quando foi forçado a renunciar por motivos de saúde.
Comoção internacional
Antes da confirmação do falecimento de Shinzo Abe, líderes de todo o mundo já reagiam ao ataque. O presidente da França, Emmanuel Macron, disse estar “profundamente chocado com o ataque hediondo” contra o ex-primeiro-ministro japonês. “A França está ao lado do povo japonês”, acrescentou Macron em um tuíte, dirigindo seus “pensamentos à família e entes queridos de um grande primeiro-ministro”.
“É um momento muito, muito triste”, declarou o secretário de Estado americano, Antony Blinken, nesta sexta-feira, acrescentando que os Estados Unidos estão “profundamente tristes e profundamente preocupados” com o ataque. “Nossos pensamentos, nossas orações estão com ele, com sua família, com o povo japonês”, acrescentou.
“Abe-san tem sido um líder notável do Japão e um forte aliado dos Estados Unidos. O governo e o povo dos Estados Unidos rezam pelo bem-estar de Abe-san, sua família e o povo do Japão”, disse o embaixador americano no Japão, Rahm Emanuel.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, também se disse “profundamente chocado com o ataque hediondo a Shinzo Abe enquanto se dirigia aos eleitores. Meus pensamentos vão para ele e sua família. A Otan está com o povo de nosso parceiro próximo, o Japão, e seu primeiro-ministro Fumio Kishida”, tuitou.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, revelou estar “chocado e entristecido” pelo ataque “covarde” a Abe, que ele descreveu como um “verdadeiro amigo, feroz defensor da ordem multilateral e dos valores democráticos”.
“Estou chocada com a notícia do ataque a Shinzo Abe. Meus pensamentos estão com ele e sua família”, tuitou em inglês a chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, durante a cúpula do G20 em Bali, na Indonésia.
Já a Rússia denunciou “um crime monstruoso” e um “ato de terrorismo”, após o ataque contra Shinzo Abe. “Estamos confiantes de que aqueles que planejaram e cometeram esse crime monstruoso serão devidamente punidos por esse ato de terrorismo que tem e não pode ter qualquer justificativa”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores da Rússia em comunicado.
“Estamos monitorando a evolução da situação e esperamos que ele esteja fora de perigo e se recupere o mais rápido possível”, disse Zhao Lijian, porta-voz do Ministério chinês de Assuntos Estrangeiros.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, também se revelou “profundamente chocado com o ataque ao meu querido amigo Abe”, escreveu Modi no Twitter. “Nossos pensamentos e orações estão com ele, sua família e o povo do Japão”.
O Japão não via nada parecido “há mais de 50 ou 60 anos”, disse à AFP Corey Wallace, professor da Universidade de Kanagawa e especialista em política japonesa. Ele afirma que o último incidente semelhante no Japão foi o assassinato, em 1960, de Inejiro Asanuma, líder do Partido Socialista Japonês, esfaqueado por um estudante da extrema direita. “Mas dois dias antes de uma eleição [contra um homem] tão importante (…) é profundamente triste e chocante”, acrescentou.
O Japão tem uma das leis de controle de armas mais rígidas do mundo, e o número anual de mortes por armas de fogo no país de 125 milhões de habitantes é extremamente baixo. A obtenção de uma licença de porte de arma é um processo longo e complicado, mesmo para cidadãos japoneses, que devem primeiro obter uma recomendação de uma associação de tiro e depois passar por rigorosos controles policiais.