A cantora e compositora Rita Lee morreu na noite desta segunda-feira (08/05), aos 75 anos. A artista lutava contra um câncer de pulmão desde 2021, o qual teria sido eliminado no ano passado, mas que a manteve lidando com as sequelas do tratamento desde então.
O óbito foi confirmado pela família de Rita nesta terça-feira (09/05), afirmando que a cantora faleceu em São Paulo “cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou”. O comunicado dos familiares também informa que o velório “será aberto ao público”, no Planetário do Parque Ibirapuera, na quarta-feira (10/05).
Nos últimos anos, a artista vivia no interior paulista com a família. Ela deixa três filhos: Roberto, João e Antônio.
Rita Lee Jones de Carvalho nasceu no último dia do ano de 1947, em São Paulo. Filha de um dentista norte-americano, Charles Fenley Jones, e Romilda Padula, a artista viveu no bairro da Vila Mariana, em São Paulo, onde desenvolveu seu gosto pelas artes e a paixão pelo Corinthians, seu clube do coração.
Se tornou ícone da música brasileira ainda muito jovem, junto com Os Mutantes, a banda de rock à qual integrou desde 1966, junto com Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, e com a qual produziu alguns dos primeiros clássicos do rock nacional, como “Ando Meio Desligado”, “Balada do Louco”, “Technicolor”, “A Minha Menina” e “Bat Macumba”.
Rita também se destacou como uma figura da Música Popular Brasileira (MPB), quando Gilberto Gil e Caetano Veloso criaram o movimento tropicalista e lançam o disco “Tropicália ou Panis et Circensis”, que contou com a participação de Os Mutantes [intérpretes de uma das canções-título do álbum, “Panis et Circensis”], além de outros grandes artistas, como Gal Costa, Tom Zé e Torquato Neto.
Em 1968, Rita se casou com o também mutante Arnaldo Baptista, mas a relação durou somente até 1972, quando a artista se separou do marido e da banda.
Os primeiros anos de sua carreira solo, entre 1973 e 1978, levaram a artista paulistana a se consolidar como um dos maiores nomes do rock nacional. Foi nesse período que ela compôs sucessos de “Ovelha Negra”, “Luz del Fuego”, “Coisas da Vida” e “Jardins da Babilônia”.
Já em 1978, Caetano Veloso lança a canção “Sampa”, na qual parece desdenhar da cidade de São Paulo, até que sua opinião muda quando conhece Rita Lee, “a sua mais completa tradução” – e também ao cruzar a esquina da Rua Ipiranga com a Avenida São João, quando “alguma coisa acontece” no seu coração.
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Rita Lee foi a ‘mais completa tradução’ de São Paulo, segundo Caetano Veloso
Mas seus anos de maior sucesso vieram a partir de 1979, quando começou a parceria com o pianista Roberto de Carvalho, que seria também seu segundo e mais longo matrimônio. Naquele ano ela lança o disco “Mania de Você”, que emplacou diversos hits, como a própria musica título, e também “Doce Vampiro”, “Chega Mais” e “Papai me Empresta o Carro”.
Os dois discos seguintes, “Lança Perfume” (1980) e “Flagra” (1982) seriam os mais bem sucedidos de sua carreira, ambos superando a marca de um milhão de cópias vendidas.
Os álbuns lançados nos anos seguintes não tiveram o mesmo êxito daquele de inícios dos anos 80, mas Rita continuou colecionando sucessos que se tornaram clássicos do rock nacional.
Nos anos 90, o canal MTV Brasil homenageou Rita nomeando-a como “madrinha do rock nacional”. Ao todo foram 40 discos, 34 na carreira solo e seis dos Mutantes.
A artista era figura célebre na televisão, não só pelo fato de que suas músicas compunham trilhas sonoras de novelas, mas também por sua participação como atriz em algumas delas, como “Ti Ti Ti” (1985), “Top Model” (1989), “Vamp” (1991) e “Celebridade” (2003), além da sitcom “Sai de Baixo” (1996-2002).
Com uma carreira gloriosa na música, em novembro de 2016, ela lançou Rita Lee: uma autobiografia, livro de memórias que foi recebido positivamente pela crítica, mas muito criticado especialmente por Sérgio Dias, seu ex-colega na banda Os Mutantes.
Em um dos trechos do livro, Rita afirma que “quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá, colegas dirão que farei falta no mundo da música, quem sabe até deem meu nome para uma rua sem saída. Os fãs, esses sinceros, empunharão capas dos meus discos e entoarão ‘Ovelha Negra’, as TVS já devem ter na manga um resumo da minha trajetória para exibir no telejornal do dia e uma notinha no obituário de algumas revistas há de sair. Nas redes sociais, alguns dirão: ‘Ué, pensei que a véia já tivesse morrido, kkk’. Nenhum político se atreverá a comparecer ao meu velório, uma vez que nunca compareci ao palanque de nenhum deles e me levantaria do caixão para vaiá-los. Enquanto isso, estarei eu de alma presente no céu tocando minha autoharp e cantando para Deus: ‘Thank you Lord, finally sedated’”.
Ela termina o capítulo dizendo qual gostaria que fosse o seu epitáfio: “ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa”.