Filósofo, professor universitário, autonomista e marxista operário, Toni Negri morreu nesta sexta-feira (15/12), aos 90 anos, em Paris, na França. O italiano chegou a liderar movimentos históricos da esquerda, como o Potere Operaio (Poder Operário), na virada de 1968. Da mesma forma que sua figura foi de extrema relevância na capital francesa para os exilados italianos durante os “Anos de Chumbo”, o homem também foi fundamental para os avanços da militância comunista no mundo.
Nascido em Pádua, Negri se formou em um contexto acadêmico tradicionalista antes das reformas de 1968, misturando raízes intelectuais influenciadas pelo catolicismo reformado e um forte socialismo anticomunista. Posteriormente, enquanto acadêmico, Negri se tornou o professor titular de Filosofia Política na Universidade de Pádua, em 1967, ganhando a renomada posição de “professor titular mais novo” da Itália.
Com seu novo cargo, o filósofo foi contornando uma figura cada vez mais simbiótica com os movimentos estudantis. Com Oreste Scalzone e Franco Piperno, fundou a revista e movimento político Potere Operaio (Poder Operário).
No início dos anos 70, Negri se juntou à Autonomia Operária, e logo se aproximou às universidades parisienses, onde passou a ministrar vários cursos, obtendo a oportunidade de conhecer importantes personalidades como Althusser, Deleuze e Guattari. Reformulou, a partir daí, hipóteses de luta em que a “violência política do proletariado” é definida como “necessária”.
Por esse novo passo “radicalmente revolucionário” e pela sua associação com líderes das Brigadas Vermelhas, como Renato Curcio, que Negri acabou mais tarde sendo preso sob dezenas de acusações, incluindo por organização subversiva, gangue e insurreição armada.
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Um dos maiores revolucionários e ativistas marxistas, Toni Negri morre em Paris, aos 90 anos
Após anos na cela, Negri finalmente sai parcialmente inocente, contudo sob algumas acusações ainda na lista. E é em torno da acusação contra o militante que surge uma cadeia de ajuda e apoio de vários professores universitários, que denunciam o poder judicial de ter criado um teorema contra o professor de Pádua.
Nesse contexto, Marco Pannella, líder do Partido Radical, ofereceu a Negri uma candidatura ao Parlamento. Em 1983, o militante conseguiu se tornar deputado, abrindo a possibilidade de deixar a prisão provisoriamente, por meio de um pedido do poder judiciário à Câmara para a liberação. Nessa altura, Negri fugiu de Punta Ala para França à noite e lá permaneceu protegido durante vários anos, nunca abandonando o seu amor pelo ensino em universidades.
14 anos depois, o acadêmico retornou à Itália, cumprindo parte da pena prevista. Um dos últimos momentos marcantes da vida política de Negri foi em 2003, quando publicou o ensaio Impero juntamente com Michael Hardt. Os autores analisaram a estrutura global e financeirizada do capitalismo contemporâneo: “uma nova forma de soberania que se sobrepõe, deixando para trás, a antiga, numa nova lógica de poder”. A dupla também apresenta os primeiros vislumbres do conceito de “biopolítica”.
Figura como a de Toni Negri oscila entre as definições: um “mau mestre” revolucionário, por um lado, ou um “grande e velho” marionetista, por outro. O militante, fonte de inspiração para a luta progressista, deixa o mundo em meio a um contexto global em que os detentores do poder imperam contra as minorias.