O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista a Opera Mundi, que a direita foi mais ousada do que a esquerda após a queda do Muro de Berlim, episódio histórico que marcou, em 1989, a derrocada do bloco socialista e o fim do chamado “socialismo real”.
As declarações foram dadas durante em entrevista concedida na última quarta-feira (18/09), na sede da Polícia Federal, em Curitiba, onde o petista está preso há mais de um ano.
Segundo o ex-presidente, a “ousadia” da direita aconteceu “porque ela partiu para temas, muitas vezes, temas de interesse pertinentemente do Estado. Por exemplo, o discurso contra os migrantes, ou seja, um discurso é um discurso muito forte em qualquer país do mundo. Veja o que está acontecendo agora no Brasil com os discursos do governo em relação à Venezuela”.
Lula ainda disse que foi criticado no Brasil por apoiar a queda do Muro e que, de certa forma, o episódio “permitiu que a esquerda voltasse a pensar”, mas que isso não aconteceu.
“Eu na verdade fui muito criticado no Brasil porque eu era um cara favorável à queda do Muro de Berlim. Eu nunca aceitei a ideia de pensamento único, nunca aceitei a ideia de que tudo seria resolvido se estivesse escrito em um manual e eu acho que a queda do muro de Berlim, ela permitiu que a esquerda pudesse voltar a pensar. A pensar livremente novas formas de organização, a pensar livremente novas formas de fazer sindicalismo, a pensar novamente em brigar para melhorar de vida, mas isso não aconteceu”, disse.
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O ex-presidente também destacou a importância de a esquerda não retornar a seu “discurso original”, mas também “saber o que está acontecendo no mundo”.
“A esquerda precisa voltar não a construir seu discurso original, mas a esquerda precisa saber o que está acontecendo no mundo, ou seja, na medida em que você não tem uma confrontação mais direta, você tem apenas um lado capitalista impondo regras, onde tudo, tudo é feito em função de melhorar a produtividade, de melhorar a rentabilidade e não tem nada pensando em como melhorar a humanidade. Como melhorar? Eu quero mais tecnologia para quê? Eu quero mais desenvolvimento para quê? Eu quero mais produção para quê? Tudo só tem sentido se melhorar a vida do povo”, afirmou.
A entrevista de Lula a Opera Mundi teve como foco os temas internacionais. Entre eles, estão a posição da esquerda após a queda do Muro de Berlim; a relação do Brasil com os EUA; a política externa do governo Bolsonaro; Mercosul; Alca e Foro de São Paulo.
Assista:
Veja íntegra da entrevista de Lula a Opera Mundi:
(*) Edição: Rafael Targino | Redação: Lucas Estanislau, Fernanda Forgerini e Laila Manuelle
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