O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou acreditar, em entrevista a Opera Mundi, que militares só devem se envolver com política se deixarem as fardas. Lula havia sido questionado sobre os generais que participaram da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti), iniciada no governo dele e que contou com a liderança brasileira, e aproveitou para falar sobre o envolvimento de oficiais na atividade política.
As declarações foram dadas durante entrevista concedida na última quarta-feira (18/09) na sede da Polícia Federal em Curitiba, onde o petista está preso há mais de um ano.
“Eu quero que os militares cuidem do Brasil, da segurança do Brasil. Se querem se meter em política, deixem as fardas, virem cidadãos civis e concorram. Porque se se meterem em política… Se tem uma coisa que militar nunca deixou de fazer no Brasil foi política. Desde a Proclamação da República. Eu acho que pode fazer. Mas, quando vai fazer, tira a farda e diz que, agora, vou ser político, e vou me submeter ao debate”, afirmou.
Lula ainda disse que não se arrepende de ter enviado tropas brasileiras para as missões de paz no Haiti em 2004, da qual fez parte o general Augusto Heleno (atual chefe do Gabinete de Segurança Institucional no governo Bolsonaro).
“Não, não me arrependo. O Brasil não foi lá para consertar o Haiti. O Brasil foi lá para tentar manter um clima de paz […]. Você sabe que o presidente da República não escolhe o general, é uma bobagem imaginar que presidente escolhe general. Eles têm uma carreira, e na carreira que eles têm, vão galgando degraus. Eu vejo que as pessoas fazem comparação, porque o Allende indicou o Pinochet, e o Pinochet foi contra ele. O Allende indicou o Pinochet porque na época as informações que ele recebeu eram para indicar o Pinochet”, afirmou.
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O ex-presidente ainda criticou a postura dos EUA durante as missões de paz no Haiti e disse que lembra que, quando “colocaram o [ex-presidente norte-americano] Bill Clinton lá para ser o arrecadador, não arrecadou nada. Eu não tenho números, mas se conversar com o Celso Amorim ele te dá, o Brasil parece que foi um dos poucos países que colocou dinheiro em cash no Haiti, porque a gente achava que deveria recuperar o Haiti”.
A entrevista de Lula a Opera Mundi teve como foco os temas internacionais. Entre eles, estão a posição da esquerda após a queda do Muro de Berlim; a relação do Brasil com os EUA; a política externa do governo Bolsonaro; Mercosul; Alca e Foro de São Paulo.
Assista:
Veja íntegra da entrevista de Lula a Opera Mundi:
(*) Edição: Rafael Targino | Redação: Lucas Estanislau, Fernanda Forgerini e Laila Manuelle
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