A direita mantém uma maioria relativa, mas a coligação PSD-CDS, sob a marca Portugal à Frente, perde votos, pontos percentuais e assentos no Parlamento, numa eleição com abstenção subindo de 41,11% em 2011 para 43,11% nesta ocasião.
Os direitistas PSD e CDS-PP, coligados para manter o governo, conseguiram ficar em primeira posição, mas não manter a maioria absoluta. Porém, a troika parece ter garantias de continuidade do cumprimento das suas diretrizes, cuja aplicação de facto já o PS tinha iniciado.
Com efeito, o PS de António Costa deu indícios de querer manter a direita no governo, priorizando como ela “os compromissos de Portugal com a UE”, quer dizer, as políticas de castigo e disciplinamento do povo trabalhador para garantir o pagamento da dívida e os lucros da grande burguesia associada ao grande capital europeu. O seu candidato, apesar de ficar abaixo do governante PàF, sublinhou que vai ficar no posto e deixará que Passos governe.
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António Costa, líder do PS, após resultado: dá sinais de querer direita no governo
A coligação governante atingiu os 36,83% de votos, um total de 1.979.132,o que o deixa com 19 mandatos à frente da suposta alternativa, o Partido “Socialista” (PS), cujas políticas são dificilmente distinguíveis e tem o anterior primeiro-ministro, José Sócrates, em prisão por diferentes casos de corrupção. No seu papel habitual de servente da direita, o partido de António Costa ficou em segunda posição, aumentando menos de 4 pontos desde as eleições anteriores (32,38% e 1.740.300 votos) e fica nos 85 deputados e deputadas.
Bloco + CDU atingem 18,49%
A força que mais subiu foi sem dúvida o Bloco de Esquerda, aliado português do grego Syriza. O partido de Catarina Martins tinha 5,17% e duplicou para 10,22% (de 282.188 votos em 2011 para 549.153 agora). Em mandatos, tinha 8 deputados e deputadas, agora terá 19, no seu melhor resultado de sempre, quando saía da sua pior crise de resultados há 4 anos.
A candidata bloquista afirmou já que, no que depender do BE, a direita não conseguirá formar governo. Martins pôs sobre a mesa as exigências do Bloco para a formação de um governo alternativo à direita: Plano de urgência para “curar as feridas da pobreza”, investimento para emprego, aumento do salário mínimo, afastamento das ameaças às pensões, reestruturação da dívida, saúde pública, escola de qualidade e estabilidade nas pensões. A dirigente do Bloco enfatizou a necessidade de fazer cair o número de desempregados e desempregadas (1 milhão na atualidade), e enfrentar realidades como o facto de uma em cada três crianças viver na pobreza, ou mais de um milhão de pensionistas sobreviver com menos de 10€ por dia, bem como a emigração de trabalhadores e trabalhadoras portuguesas.
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Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, aliado português do Syriza: crescimento expressivo
Em termos semelhantes se manifestou o secretário-geral do PCP, cuja coligação com Os Verdes (a CDU) teve um pequeno avanço em votos e percentagem, somando também mais um assento aos 16 que já tinha, mas ficando abaixo do Bloco de Esquerda.
Concretamente, a CDU avança um ponto, de 7,87% (423.975 votos) para 8,27% (444.319 votos) e uma cadeira na Assembleia da República, passando de 16 para 17 deputados e deputadas.
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Jerónimo de Sousa lembrou os pontos centrais do programa do PCP: Valorização dos salários, designadamente do salário mínimo para 600€ em 2016, e do valor real das pensões de reforma, combate à precariedade, valorização da contratação coletiva, reposição dos salários, das pensões e dos feriados retirados pelo governo anterior, assim como dos complementos de reforma, reforço da segurança social, do abono de família, subsídio do desemprego e doutros apoios sociais.
A soma das duas forças mais críticas com a austeridade atinge assim os 18,49%, face aos 13,07% da eleição anterior.
PS e PSD-CDS coincidem em priorizar pagamento da dívida e aplicar austeridade
Entretanto, as propostas das forças de esquerda parecem ter complicada qualquer concreção, uma vez que o PS de António Costa dá prioridade ao que chamam “cumprimento dos compromissos de Portugal com a UE”, por cima dos compromissos que deveria ter com a empobrecida maioria social portuguesa.
EFE
Jerónimo de Sousa, durante campanha eleitoral: ele ressaltou importância da valorização dos salários
Também o atual primeiro-ministro, António Passos Coelho, parece ter clara a sua posição: “procurar, junto do PS, entendimentos indispensáveis, na expectativa de que, como partido europeísta que é, estará disponível para trabalhar em prol do país”, eufemismo com que declara a sua confiança em poder continuar a manter os lucros da classe dirigente à custa do empobrecimento da classe trabalhadora, como já fez nos últimos anos.
Como novidade, o novo Parlamento português incorpora um novo partido, o PAN (Pessoas Animais Natureza) com um programa “antiespecista”, ao conseguir eleger um representante (humano) por Lisboa.
Outros partidos da esquerda
O Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP), que já avaliou o resultado das eleições, angariou 59,812 votos e foi a força de esquerda com maior apoio dentre as que ficaram fora da Assembleia da República. Teve 1,11% dos votos (o PAN, último que conseguiu representação, teve 1,39%).