Todos os governantes do mundo sempre recorrem ao truque de buscar algo
sensacional, frequentemente preparado com antecedência, quando sua
liderança está em queda e precisam desviar a atenção dos problemas
reais que afligem o país. O presidente do Peru, Alan García, é um
indiscutível campeão na modalidade de confundir o povo quando sua
aceitação está em declínio.
Por isso, não é de se estranhar que a captura em Lima do suboficial da
força aérea Víctor Ariza, acusado de espionagem para o Chile,
apresentada com pompa e circunstância, seja um de seus truques
hipnóticos. A intenção é encobrir a descarada venda do Peru aos
investidores chilenos, patrocinada pelo próprio García, que já estava
causando indignação geral.
Que segredos este suboficial da inteligência poderia vender aos chilenos que eles já não soubessem?
Primeiro: o Chile possui dois satélites FASat-Alfa e FASat-Bravo
lançados nos anos 1990. Em fevereiro de 2010, será lançado seu satélite
militar, adquirido na Europa por 72 milhões de dólares. Com esta
tecnologia, sabem a localização, o deslocamento e os armamentos das
tropas nos mínimos detalhes.
E, segundo: o Chile é aliado indubitável dos Estados Unidos na América
Latina, assim como foi dos britânicos na Guerra das Malvinas. A CIA
(Agência Central de Inteligência dos EUA), a DEA (agência antidrogas
norte-americana), o DIA (serviço de inteligência militar dos EUA) e
outros consideram o Chile um país amigo. Os norte-americanos passam
toda a informação necessária aos chilenos a respeito dos vizinhos, em
especial sobre o Peru, cujos imensos e incalculáveis recursos naturais
são como ímã. E não se deve esquecer que as fontes hídricas e
energéticas do Chile estão se esgotando, e que suas terras são
insuficientes para suprir as necessidades alimentícias do país.
Alan García está tentando acabar com toda essa riqueza natural e com a
infraestrutura econômica peruana, seguindo o exemplo de outros
presidentes, especialmente Alberto Fujimori e seu colaborador Vladimiro
Montesinos.
O Peru representa uma oportunidade única para aliviar os problemas
econômicos chilenos, cujo governo facilita um oportuno crédito
financeiro a quem quer fazer negócios no Peru. A “chilenização” do Peru
começou aceleradamente com uma frase de Pinochet aos endinheirados:
“Comprem no Peru: está mais barato”. Agora, chilenos são donos de redes
de supermercados, hotéis, do aeródromo Collique, de áreas de cultivo,
construtoras de casas, minas e portos. E se apoderaram do transporte
aéreo, marítimo e terrestre peruanos sem disparar um tiro sequer;
somente oferecendo um punhado de dólares ao governo corrupto, com a
permissão dos militares.
A suposta traição do suboficial não é nada quando comparada à traição
generalizada de todas as instituições peruanas, em especial das forças
armadas. O espírito de Montesinos continua muito vivo na alma nacional.
De outra maneira, não se explica como o povo permite ao governo a
destruição da soberania nacional. Heróis como Francisco Bolognesi,
Miguel Grau, Velasco Alvarado, Hoyos Rubio não existem mais entre os
militares.
Os segredos de Estado são utopia no Peru porque a empresa Global CST –
do serviço secreto israelense, o Mossad – é contratada para treinar as
forças armadas. É a mesma empresa que está fazendo esse trabalho no
Chile, na Colômbia, em Honduras e muitos outros países
latino-americanos com a permissão e o controle da CIA e do DIA.
Não há mais nada a esconder. Sabe-se de tudo: muda somente o preço.
*Artigo publicado originalmente pelo blog Argenpress.
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