Israel está tirando vantagem das negociações de paz com a ANP (Autoridade Nacional Palestina): ao mesmo tempo em que melhora sua imagem perante a comunidade internacional, constrói novos assentamentos nos territórios ocupados a fim de prejudicar a criação do estado da Palestina. É essa a análise do premiê do Hamas na Faixa de Gaza, Ismail Haniyeh, sobre o diálogo estabelecido, em agosto deste ano, entre autoridades israelenses, palestinas e norte-americanas.
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Para que servem as negociações entre israelenses e palestinos?
Discursando em um evento neste sábado (19/10) de comemoração pelos dois anos da troca de prisioneiros com as forças israelenses, na qual mais de mil presos palestinos foram libertados, o premiê criticou os termos do acordo em curso, que não vai garantir, por exemplo, o direito de retorno a milhares de palestinos expulsos de suas lares e propriedades desde a criação do estado de Israel em 1948.
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Segundo ele, “muitos palestinos não concordam” com o passo-a-passo das negociações, estabelecidos, principalmente, pelos Estados Unidos e Israel. Ao contrário do Fatah, que conduz o diálogo de paz como ANP, o Hamas é contrário à criação do estado palestino dentro das fronteiras estabelecidas nos Acordos de Oslo (1993), mas já acenou para a possibilidade de negociar tendo como referência as fronteiras de 1967.
Haniyeh também mostrou preocupação com a expansão dos assentamentos israelenses nas terras palestinas, sobretudo na Cisjordânia, que continuou mesmo durante os períodos de diálogos pela paz. Para o premiê, o governo israelense constrói novas casas nesses espaços para dificultar a criação do estado palestino.
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“Nós sabemos que a ocupação israelense aumenta o número de colônias para ganhar tempo, que é dispendido, por sua vez, em negociações”, afirmou ele neste sábado (19/10). “O único que se beneficia com essas negociações é Israel, que melhora sua imagem perante a comunidade internacional”, acrescentou Haniyeh.
Direito a resistir pela terra
Apesar de criticar o diálogo com governo israelense, o líder do Hamas não descartou esse instrumento desde que aliado à luta. “Nós aprendemos pelas experiências de outras nações que é importante seguirmos os dois caminhos: resistência e negociação”, afirmou ele.
O premiê lembrou que grande parte das conquistas palestinas, incluindo a libertação dos prisioneiros no dia 10 de outubro de 2011, se deveu à resistência não apenas de palestinos, mas também de ativistas internacionais. Rachel Corrie, a jovem norte-americana morta, em 2002, por um trator israelense ao tentar proteger uma casa em Rafah de demolição, foi citada por ele.
“Apesar de todos os esforços de roubar nossa terra, nossos direitos e nossa autodeterminação, sempre confiamos na vitória”, encorajou ele.
Haniyeh: devemos nos unir
A reconciliação entre os diferentes grupos políticos palestinos também foi elencada como prioridade pelo líder do Hamas, que disse aceitar os termos acordados, em maio deste ano, entre sua organização e o Fatah. Segundo ele, o Hamas está preparado para tomar os passos necessários em prol da união. “Vamos ter um governo, um parlamento e um presidente”, sugeriu ele.
“Toda vez que estamos perto de um acordo”, disse o premiê, “os norte-americanos começam novos projetos políticos para afastar nossos irmãos do Fatah de finalizar a negociação”.
Um possível acordo entre os grupos colocaria fim à ruptura administrativa dos territórios palestinos, uma vez que a Faixa de Gaza é governada pelo Hamas e a Cisjordânia, pelo Fatah por meio da ANP. Muitos acreditam que a unidade palestina fortaleceria a luta em busca de um estado nacional independente.
(*) Com informações de jornais internacionais