“Olá, saúde para nós. Que não adoeçamos, que não morramos”, foi a saudação inusitada dos sul-coreanos durante o feriado anual de Chuseok, o Dia de Ação de Graças da Coreia do Sul, celebrado nesta terça-feira (17/09). O cumprimento satírico da população faz referência à escassez de serviços de saúde no país, em decorrência de decisões unilaterais tomadas pelo governo, contrariando a vontade do setor médico.
Desde os sete meses do início da greve dos médicos contra o projeto anunciado pelo presidente Yoon Suk Yeol, do conservador Partido do Poder Popular, que consiste na criação anual de duas mil vagas para estudantes de medicina em universidades locais ao longo de cinco anos, a comunidade médica segue pressionando o governo para a retirada da medida.
Mais de 12 mil estagiários do setor chegaram a abandonar seus empregos e residências em protesto, considerando a iniciativa de Yoon “ineficaz”. Eles entendem que as universidades não vão comportar novos alunos, haverá falta de professores, e que a medida não resolveria uma eventual “escassez crônica de médicos” em algumas áreas-chave, como prontos-socorros, da forma como alega o governo.
A preocupação também envolve a desestabilização da integridade financeira de seguro de saúde nacional e outros marcos fiscais médicos. Alguns manifestantes acusam o governo de articular um projeto, de maneira precipitada, apenas para “reverter sua situação de baixa popularidade” à curto prazo. No entanto, se “reverter a baixa popularidade” fosse a intenção, levantamentos apontam uma tendência contrária.
O plano governamental é considerado pela imprensa local como a maior razão pela qual as pessoas desaprovam o desempenho de Yoon. Segundo a pesquisa semanal Gallup, quase oito em cada 10 pessoas afirmam ter medo de não poder receber cuidados médicos quando ficarem doentes.
Rejeição histórica
Nesta segunda-feira (16/09), antes do Chuseok, uma pesquisa de opinião pública mostrou que o índice de aprovação de Yoon atingiu o ponto mais baixo desde o início de seu mandato.
A agência Realmeter revelou que a avaliação positiva do presidente sul-coreano foi de 27,0%. Ou seja, uma taxa inferior aos 29,3% registrados em agosto de 2022.
As rejeições referentes ao desempenho do mandatário aumentaram em 2,6 pontos percentuais, atingindo o recorde de 68,7%. Na primeira semana de agosto de 2022, a avaliação negativa havia sido de 67,8%.
O levantamento ouviu 2.503 pessoas, com 18 anos ou mais, em todo o país, entre os dias 9 e 13 de setembro.
Sistema em colapso
De acordo com os dados apresentados pelo Serviço de Revisão e Avaliação de Seguros de Saúde (HIRA) no início de setembro, os principais hospitais da Coreia do Sul estão realizando 16,3% menos cirurgias de câncer neste ano.
Entre fevereiro e junho, o número de pacientes submetidos a cirurgias de câncer em hospitais gerais de classe alta em todo o país totalizou 57.244, ou seja, 11.181 menos em relação ao mesmo período do ano passado.
No entanto, o governo de Yoon minimizou a situação em recente coletiva de imprensa, quando alegou que o sistema médico estava “operando sem problemas”. O primeiro-ministro sul-coreano, Han Duck Soo, também seguiu a narrativa do mandatário, afirmando que “de forma alguma temos que nos preocupar com o colapso médico”.
A agência de notícias sul-coreano Yon Hap informou, na semana anterior, que o número de médicos de pronto-socorro caiu 42% em 53 hospitais do país, sendo que sete das unidades estavam considerando o fechamento parcial de salas de emergência.