O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, admitiu ter protegido o príncipe da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman, de ser investigado pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, morto dentro do consulado saudita em Istambul, na Turquia, em outubro de 2018.
A declaração foi dada pelo próprio mandatário ao jornalista Bob Woodward e será publicada em seu novo livro, Rage (Fúria, em tradução livre), que será lançado no dia 15 de setembro. Os trechos sobre o caso de Khashoggi foram publicados nesta quinta-feira (10/09) pelo Business Insider.
Segundo o portal, o livro traz declarações de uma conversa entre Trump e Woodward ocorrida no dia 22 de janeiro, na qual o jornalista perguntou ao republicano sobre o assassinato de Khashoggi, que escrevia regularmente ao Washington Post.
“O pessoal do [Washington] Post está chateado pelo assassinato de Khashoggi. Isso é uma das coisas mais brutais. Você mesmo já disse”, afirmou Woodward a Trump. “Sim, mas o Irã está matando 36 pessoas por dia”, respondeu o presidente.
Quando questionado sobre o envolvimento de Bin Salman no ocorrido, Trump disse: “Eu salvei o traseiro dele. Eu consegui fazer com que o Congresso o deixasse em paz. Eu consegui fazer com que eles parassem”.
Em novembro de 2018, um mês após Khashoggi ter entrado no consulado e nunca mais ter saído do prédio, uma investigação conduzida pela CIA concluiu que o príncipe da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman, teria pessoalmente ordenado o assassinato do jornalista, que era crítico ao regime do país.
White House
Segundo trechos do novo livro de Bob Woodward publicados pelo Business Insider, Trump disse que ‘salvou o traseiro’ de Mohammed Bin Salman
Já em junho de 2019, a relatora sobre execuções extrajudiciais da ONU, Agnes Callamard, disse que haviam “elementos de provas que justificam uma investigação suplementar sobre a responsabilidade individual de altos funcionários sauditas, incluindo o príncipe herdeiro”.
Segundo o livro de Woodward, Trump disse que se envolveu muito com o caso e que sabia “tudo sobre toda a situação”. Perguntado se acreditava na inocência de Bin Salman, Trump respondeu: “Ele sempre dirá que não fez. Ele diz isso a todo mundo e francamente eu estou feliz que ele diga isso. Mas ele dirá a você, dirá ao Congresso e dirá a todo mundo. Ele nunca disse que fez”.
À época, a morte de Khashoggi e a conclusão de que ele fora assassinado e teve seu corpo desmembrado pelos autores do crime causaram pressão no governo Trump, um grande parceiro da Arábia Saudita.
O mais recente desdobramento do caso ocorreu na última segunda-feira (07/09), quando um tribunal saudita anulou as penas de morte de cinco dos oito réus condenados pelo assassinato de Khashoggi.
Essa é mais uma revelação de uma série de 18 entrevistas dadas por Trump a Woodward e que compõem o novo livro do jornalista. Nesta quarta-feira (09/09), o Washington Post e a CNN divulgaram trechos do livro em que o presidente norte-americano aparece admitindo, em fevereiro, a letalidade do novo coronavírus e afirmando que minimizava a gravidade da covid-19 para evitar pânico.
Woodward é, junto com Carl Bernstein, um dos responsáveis, em meados da década de 1970, pelas reportagens no Washington Post sobre o caso Watergate, que ajudou a derrubar o então presidente republicano Richard Nixon.