O fundador do Wikileaks, Julian Assange, teve a extradição negada nesta segunda-feira (04/01) pela Justiça do Reino Unido, país em que o ativista permanece preso após publicar documentos secretos norte-americanos que indicavam crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos.
Opera Mundi separou os principais fatos que envolveram o australiano nos últimos anos.
Revelações Wikileaks
O Wikileaks foi criado por Assange em meados de 2006 e tem como principal objetivo divulgar documentos diplomáticos, políticos e de guerras que não são compartilhados com a mídia. A página ganhou destaque em 2010, quando revelou relatórios do governo norte-americano que indicaram crimes de guerra cometidos pelo exército dos EUA no Afeganistão e no Iraque. Após as revelações, Washington iniciou uma investigação contra Assange por crimes de espionagem e conspiração.
No mesmo ano, o site publicou documentos diplomáticos confidenciais dos Estados Unidos que incluíam vídeos da morte de civis e jornalistas em Badgá, capital iraquiana. No total, mais de 700 mil documentos foram revelados pelo Wikileaks.
Após as publicações, os Estados Unidos emplacaram uma série de denúncias contra o jornalista, que pediu asilo político na embaixada do Equador em Londres.
Asilo
Em junho de 2012, podendo ser extraditado para a Suécia, onde era acusado por um suposto caso de abuso sexual, Assange solicitou asilo político ao Equador, permanecendo por sete anos na embaixada equatoriana em Londres, no Reino Unido.
No tempo que esteve na embaixada, o Equador concedeu cidadania equatoriana ao australiano. À época da concessão, foi informado que a medida seria uma forma de dar mais proteção a Assange. No entanto, a situação mudou após Lenín Moreno, atual presidente do Equador, suspender o asilo e a cidadania ao fundador do Wikileaks em 2019.
Processo contra o Equador
Ainda como asilado na embaixada, algumas medidas de Moreno em relação ao direitos de Assange foram restritas. O acesso do australiano à internet, por exemplo, diminuiu. Em 2018, o ativista moveu um processo contra o governo equatoriano por violar seus “direitos fundamentais”.
Segundo Assange, ele sofreu censuras contra “sua liberdade de opinião, de expressão e de associação”. O motivo seria um “protocolo especial” imposto por Quito, justificado pelo status de asilo político.
Prisão
Em 2019, após sete anos dentro da sede diplomática equatoriana, o presidente do Equador suspendeu o asilo de Assange e, assim, o fundador do Wikileaks foi preso na capital britânica.
O ativista foi retirado à força da embaixada e está detido na prisão de Belmarsh, em Londres, desde maio do ano passado. A cidadania concedida pelo governo equatoriano também foi revogada. Após a prisão, o governo britânico confirmou que a detenção foi feita em atendimento a um pedido de extradição feito pelos Estados Unidos.
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Nesta segunda-feira (04/01), fundador do Wikileaks teve extradição negada pela Justiça britânica
Visitas e apoiadores
Após ser retirado da embaixada e ser levado à penitenciária de Belmarsh, Assange recebeu algumas visitas – uma delas, a da atriz Pamela Anderson. A artista defende a liberdade do ativista e disse que foi “muito difícil” ver Assange na prisão.
No encontro, Anderson afirmou que o fundador do Wikileaks é um “homem inocente” e que “nunca cometeu nenhum ato de violência”. “Ele é um bom homem, ele é uma pessoa incrível. Eu o amo, não consigo imaginar o que ele está passando”, declarou Anderson.
O ativista também recebeu o apoio de diversas lideranças pelo mundo como o ex-presidente Lula, o uruguaio Pepe Mujica, a atual vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e outros. Entidades de juristas, organizações e movimentos sociais também prestaram solidariedade a Assange.
Novas acusações norte-americanas
Um mês após perder o asilo e ser preso em Londres, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos apresentou 17 novas acusações contra Assange, incluindo o ato de “espionagem” por publicar informações confidenciais. O governo norte-americano já denunciava o ativista por “conspiração” em conjunto com Manning.
Caso a Justiça britânica decida futuramente por extraditá-lo, Assange pode ser considerado culpado por todas as acusações e pegar uma pena máxima de 175 anos de prisão.
Investigação de estupro contra Assange
A Procuradoria da Suécia, em 2019, suspendeu as investigações que acusam Assange de estupro. As denúncias já haviam sido arquivadas em 2010, quando o suposto crime foi denunciado. De acordo com a vice-procuradora-chefe da Suécia, Eva-Marie Persson, as memórias das testemunhas, mesmo com evidências confiáveis, têm ficado mais fracas em decorrência do tempo de quando o crime teria sido cometido.
A acusação de estupro contra Assange surgiu em 2010, quando duas mulheres alegaram terem sido vítimas de agressões sexuais cometidas pelo jornalista em Estocolmo. O australiano sempre negou a culpa. O caso ficou parado depois que Assange se refugiou na embaixada do Equador em Londres.
Assange era vigiado 24h por dia, dizem testemunhas
Em setembro de 2020, a Justiça britânica iniciou as sessões que julgam o caso de Assange. Em um desses encontros, duas testemunhas que estão sob proteção de anonimato por questões de segurança afirmaram que, durante o asilo de sete anos dentro da embaixada do Equador, o jornalista era vigiado 24 horas por dia. As afirmações são de ex-funcionários que cuidavam da proteção eletrônica da embaixada
O sistema era de uma empresa espanhola no qual o dono “se comprometeu com as autoridades norte-americanas a fornecer informações confidenciais sobre Assange e sobre o presidente do Equador”, segundo um dos ex-colaboradores.
Filhos
Uma das advogadas de Assange, Stella Morris, revelou, em 2020, que teve dois filhos com o ativista durante o tempo em que ele permaneceu asilado na embaixada do Equador em Londres. Os dois começaram a namorar em 2015 e o australiano chegou a acompanhar por vídeo o nascimento das crianças. Segundo Morris, o relacionamento entre eles ainda existe mesmo com Assange preso na capital britânica.
A advogada revelou a informação por temer que a vida do ativista “esteja em perigo” caso ele permaneça na prisão. Gabriel, de dois anos, e Max, de um ano, são frutos do relacionamento entre os dois.