O cerco está se fechando para o torturador uruguaio Pedro Antonio Mato Narbondo, condenado na Itália à prisão perpétua por crimes da operação Condor. O Brasil negou sua extradição, mas afirmou que a Justiça italiana poderá pedir a transferência da execução da pena com base na lei da imigração.
Em resposta ao pedido de extradição do coronel reformado enviado ao Brasil em janeiro passado, o Itamaraty enviou, através de canais diplomáticos, um despacho ao governo italiano informando que “segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública não será possível dar prosseguimento ao pedido de extradição de Narbondo em razão da vedação expressa no artigo 5 da Constituição Federal do Brasil”.
O documento, o qual Opera Mundi obteve com exclusividade, esclarece que “Narbondo é filho de brasileiro, tendo optado por tal nacionalidade que foi homologada pela Justiça Federal em 2003”. Porém, diante da negativa, o Itamaraty ressalta que a “Itália poderá solicitar a transferência de execução de pena nos termos da lei 13.445/20017”, isto é, a nova lei da imigração. Segundo fontes da justiça italiana, a ministra da Justiça, Marta Cartabia, assinará em breve o pedido.
Narbondo foi um dos 14 torturadores (onze uruguaios e tres chilenos) condenados em via definitiva pelo tribunal de Roma em julho de 2021 à prisão perpétua pelo assassinato de uma dezena de cidadãos italianos ocorridos nos anos 1970 e 1980, no âmbito da Operação Condor, uma rede de perseguição, tortura e assassinato de opositores políticos implementada pelas ditaduras do Cone Sul.
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Justiça italiana poderá pedir a transferência da execução da pena de Narbondo
Especificamente, as vítimas do coronel nesse processo são Bernardo Arnone, Gerardo Gatti, Juan Pablo Recagno Ibarburu e María Emilia Islas Gatti de Zaffaroni.
Conhecido como El Burro por seus colegas pela forma brutal com que conduzia seus interrogatórios, Narbondo é o unico dos uruguaios a não estar preso: nove se encontram em prisões uruguaias e um, Jorge Nestor Troccoli, está preso na Itália.
O coronel, que hoje está com 80 anos, mora em Santana do Livramento, cidade de fronteira com o Uruguai, país de onde fugiu após ter sido convocado para depor em um processo no qual é investigado pela morte de um operário em 1972.
Em agosto de 2021, após anos de silêncio, Narbondo falou com o jornal gaúcho Matinal e disse que era militar e cumpria ordens. “Vivíamos em uma época de guerrilhas nos países. Os Tupamaros no Uruguai, VAR Palmares no Brasil, o mesmo na Argentina, Chile. Então tudo o que eu disser em minha defesa, como militar, não vai adiantar”.