Célebre pelas imitações que faz da ex-presidenta Dilma Rousseff, o ator e humorista mineiro Gustavo Mendes, de 33 anos, conversou com o jornalista Breno Altman no programa SUB40 desta quinta-feira (26/05), e defendeu que não há limites para o humor, mas que o alvo preferencial das piadas não deveria ser o oprimido, e sim o opressor.
“Há limite para o humor? Não. Pode fazer piada com tudo? Pode. Porém, há tempo para todas as coisas. Posso fazer piada com preto? Posso. Hoje? Não. Ontem [quarta-feira (25/05)] a gente viu morrer Genivaldo Santos, um homem esquizofrênico, pai de família, numa câmara de gás dentro de um camburão da Polícia Militar. Pode fazer piada com preto? Pode, quando a gente pagar nossa dívida escravocrata. Pode fazer? Pode. Agora? Não”, argumentou Mendes.
Para ele, o mesmo raciocínio vale em relação a piadas sobre travestis, no país que mais mata travestis e transexuais no mundo, ou em relação a piadas sobre mulheres, tendo o Brasil as taxas de feminicídio entre as mais altas do mundo.
Nesse sentido, Mendes criticou humoristas que lutam pelo direito de ser racistas, transfóbicas ou machistas nas piadas e ironizou a existência, no Brasil, de comediantes de direita e apoiadores do atual presidente (a quem ele só se refere como “The Bosta”).
“Eu já tinha visto empresário careca de direita, cantor falido de direita, ex-paquita querendo espaço na mídia de direita, ex-ator pornô de direita. Já vi de tudo de direita, mas comediante de direita, só no Brasil”, afirmou.
Quem é Gustavo Mendes
Nascido na pequena cidade mineira de Guarani, de 9 mil habitantes, e estabelecido em Juiz de Fora (MG), Gustavo Mendes atuou em humorísticos televisivos como Casseta & Planeta, Zorra Total e Xilindró, mas pertence a uma geração que desenvolve um humor de características mais livres e independentes, em canais como o YouTube, onde veicula ainda hoje paródias da figura pública que o tornou notório, Dilma Rousseff.
Segundo ele, a personagem surgiu por acaso, quando Dilma ainda era ministra do governo Luiz Inácio Lula da Silva e ele imitava no rádio a atual prefeita de Juiz de Fora, Margarida Salomão (PT), então reitora de universidade e candidata à prefeita.
“Quando perdeu as eleições, Margarida sumiu, e eu perdi a personagem. Aí Dilma começou a aparecer muito, porque tínhamos um problema gravíssimo de energia no Brasil, com apagões, que ela resolveu como ministra de Minas e Energia”, lembrou, acrescentando que na época, ele “estava parecido com ela, tinha um dentinho para a frente, estava gordinho, cabeludo. Estava na Record, no Show do Tom [do comediante Tom Cavalcante], e ficava meio ali de escanteio”.
Tentando alavancar um personagem que ninguém imitava, gravou um vídeo como Dilma e colocou no YouTube com o objetivo de mandar para Tom Cavalcante. E o vídeo estourou. “Fui capa da Folha de S.Paulo como fenômeno do YouTube, porque tinha 70 mil acessos, o que era fenômeno naquela época”, disse.
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Conhecido por imitar Dilma Rousseff, comediante mineiro é pré-candidatura a deputado federal pelo PT
Humor e vida política
Segundo ele, no princípio do sucesso como Dilma, não sabia nada sobre política e começou a se inteirar (e se interessar) quando passou a ser cobrado pelas implicações políticas de fazer humor sobre a presidenta da República.
“Eu nem sabia o que era ser de esquerda. Não tinha conhecimento nenhum de política. Na época do governo Lula eu era criança, estava curtindo iogurte, que nunca teve em casa e agora a gente tinha condição de comprar”, descreveu.
Mendes afirma acreditar que o humor é sempre de oposição e que não existe humor de homenagem. “Fiz um humor de oposição ao governo Dilma, conscientemente, embora eu tivesse desde sempre minha simpatia pela história dela e pelo governo dela, adquirida principalmente do que eu havia vivido do governo Lula”, afirmou.
“Quando veio o golpe, não me vi no direito de ficar calado, em cima do muro, com medo de perder contratos”, explicou, acrescentando que foi quando ficou evidente que era de esquerda: “sou alguém de esquerda porque sou classe trabalhadora. Eu sei da importância do SUS para minha família”.
A princípio, tinha medo de conhecer Dilma pessoalmente, se apaixonar “mais ainda” por ela e perder a coragem de fazer piada, como acontece com Ciro Gomes (PDT), de quem disse ser amigo e admirador.
Atualmente, o humorista é pré-candidato a deputado federal pelo PT de Minas Gerais. No SUB40, ele explicou que primeiro foi assediado pelo PRTB, ex-partido do vice-presidente Hamilton Mourão.
“Perguntei: ‘Vocês vão apoiar Bolsonaro?’. ‘Vamos, é uma escolha natural.’ O que eles fumaram para estar me ligando? Meia hora depois, me ligou de novo com uma proposta nova, de vir como a grande estrela de outro partido, o Partido Novo. É pegadinha? Saí fora.”
O comediante sustentou que não pretende pautar sua campanha no humor e disse acreditar que política é missão, e não meio de vida.
“Numa escala, sou um cidadão homem gay, em primeiro lugar. Não sou igual àquele governador do Rio Grande do Sul [Eduardo Leite] que diz que não é um gay governador, mas um governador gay, colocando essa pauta em segundo plano. Não vou levantar a bandeira LGBTQAP+, eu sou a bandeira, essa causa é a minha vida, o meu corpo. Abaixo disso sou um comediante, que é como sustento minha casa e minha família. Depois disso vem a missão, a política, que não é meio de vida”, destacou.
Enquanto a campanha eleitoral não começa efetivamente, Gustavo Mendes explica que continua sendo governado pelo humor, tendo o poder político como alvo principal.