No programa SUB40 desta quinta-feira (28/07), Breno Altman entrevistou a vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Julia Aguiar, que admitiu a fragilização do movimento estudantil nas ruas, no processo que conduziu ao golpe de Estado de 2016.
“De fato, se a gente levou um golpe foi porque a perna da organização política, do trabalho de base e da relação com o povo estava mais fragilizada”, afirmou, reconhecendo a institucionalização da UNE nos governos petistas, mas ressalvando uma retomada gradual até o momento atual de unidade quase consensual dentro da entidade em torno da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva.
A UNE promete agenda intensa de manifestações em agosto, com a aprovação por unanimidade do Dia Nacional de Mobilização em defesa da democracia e das eleições livres em 11 de agosto, dia do estudante, além de mobilizações em torno do dia da juventude, em 12 de agosto, e do Grito dos Excluídos, no bicentenário da Independência, em 7 de setembro.
Na avaliação da estudante, o golpe e a eleição de Bolsonaro, em 2018, estimularam um amadurecimento e a construção de unidade em torno da tarefa principal de derrotar o atual presidente nas urnas. Aguiar aponta que houve uma “polarização despolitizada na entidade”.
“Durante muito tempo houve uma crítica de que a UNE se localizava muito dentro da institucionalidade, ajudando a construir as políticas públicas de educação dos governos petistas, mas fazia pouco e deixava a desejar na luta de rua”, avalia a dirigente, sob a ressalva de que tal crítica não deve ser cristalizada e não caracteriza as movimentações da entidade no pós-2016.
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Para Aguiar houve uma ‘polarização despolitizada’ na União Nacional dos Estudantes
Estudante secundarista no último ano em 2013, quando participou das Jornadas de Junho, Aguiar ingressou no curso de ciências sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2014, quando passou a integrar o Levante Popular da Juventude.
Hoje, na executiva nacional do Levante Popular e na direção da UNE, ela defende a conservação do papel histórico da entidade que completa 85 anos em 2023.
A reivindicação de ensino superior público e gratuito para todos vem atravessada pela cautela na conjuntura atual, segundo leitura da líder estudantil. “As condições econômicas e a correlação de forças não serão tão favoráveis como já foram. Vai ser um governo difícil”, introduz, criticando o avanço dos grupos privados sobre o ensino universitário.
Para a UNE, de acordo com Aguiar, o próximo período deve ser de transição de programas como ProUni e Fies para outros modelos. “Não dá para combater políticas públicas paliativas, o que na prática reduziria o acesso da juventude mais pobre às vagas e ao ensino superior e às vagas. Mas esses programas não podem ser de longo prazo nem permanecer sendo o principal foco da política de educação de um governo progressista”, disse.