As pesquisadoras e comunicadoras chilenas do coletivo Sin medios/Sin miedo registraram os muros da cidade de Santiago, que durante os meses de outubro, novembro e dezembro se transformaram no suporte das informações, denúncias, anseios e demandas da cidadania durante os protestos no Chile.
O trabalho audiovisual realizado neste minidocumentário reúne parte das milhares de frases que podem ser observadas nas ruas de Santiago no setor da cidade entre o Palácio de La Moneda e a Praça da Dignidade – outrora Praça Itália, rebatizada pela população mobilizada.
Também traz opiniões de artistas muralistas como Caiozzama e Gadak, fala do sentido que eles dão a seus trabalhos, e também destaca o importante papel do movimento feminista, uma das principais responsáveis pela unidade e organização desses mais de 70 dias seguidos de manifestações.
FORTALEÇA O JORNALISMO INDEPENDENTE: ASSINE OPERA MUNDI
A fotógrafa Natalia Espina considera que “registrar estes muros não significa somente capturar um momento, uma denúncia ou a indignação popular, mas também um sentir, uma expressão que deseja ser vista e escutada. É muito forte a sensação de transitar pela cidade, ler estas mensagens, que não deixa ninguém indiferente, e por isso é de suma importância o trabalho de transformar estas obras em material audiovisual, e manter viva esta parte da história”.
Reprodução
Manifestantes decidiram utilizar ‘espaço das ruas para contar tudo aquilo que parte da imprensa não está informando’, afirma jornalista
No percurso, é possível ver temáticas diversas, desde as demandas por melhores aposentadorias, moradia, saúde digna ou Assembleia Constituinte, até reclamações pelo papel da imprensa, ou dos meios de comunicação durante o que alguns denominam “explosão social”.
Veja o documentário Sin medios/Sin Miedos:
Para a jornalista Paola Cornejo, “alguns meios [de comunicação] optaram pelo esvaziamento, ou mesmo pela omissão, em suas coberturas, mas os jovens, as mulheres, os artistas, os coletivos e os muralistas decidiram utilizar o espaço das ruas para contar suas verdades, tudo aquilo que parte da imprensa não está informando atualmente. Assim, os muros da cidade se transformaram em meios de comunicação”.
As realizadoras esclarecem que se trata de um material que foi levantado no Chile, com o objetivo de retratar e compartilhar o sentir de centenas de manifestantes. “Há uma realidade dolorosa, que é a de pessoas feridas, violentadas, falecidas, e outra de gente que não desiste, que se organiza, que aposta em um país distinto, e por relações sociais distintas. Nós quisemos dar espaço a essas demandas”, explica a pesquisadora Alejandra Naranjo.
Finalmente, como equipe, elas expressaram que “nenhuma democracia é saudável se não tem uma cidadania ativa, ou pessoas que assumam o papel de contar ou transmitir a história coletiva”.
Tradução: Victor Farinelli
Publicado originalmente pelo coletivo Sin medios/Sin miedo