Um mês após o assassinato do presidente Jovenel Moise, o Haiti segue sem presidente. À frente do país está Ariel Henry, primeiro-ministro nomeado dias antes do crime e que tem o apoio da comunidade internacional.
Não há consenso entre os grupos políticos para a escolha de um líder provisório até as próximas eleições. Diante deste cenário, a população não vê saída para as crises política, econômica e de segurança, e se sente abandonada.
Moise, 53, foi morto em sua casa na madrugada do dia 7 de julho por um grupo armado formado por estrangeiros. A primeira-dama, Martine Moise, ficou ferida durante o atentado e teve de ser transferida para um hospital nos Estados Unidos.
Após o ataque, 26 pessoas foram presas, entre elas, muitos colombianos. A polícia afirma que o plano foi organizado por haitianos com relações fora do país e ambições políticas. Porém, o caso continua com muitas perguntas sem respostas.
Em uma entrevista ao jornal norte-americano The New York Times no final de julho, a viúva de Moise questionou o fato de nenhum dos cerca de 50 agentes encarregados da segurança do presidente ter sido ferido durante o atentado.
Para ela, os presos até então são apenas os executores de um plano feito por pessoas mais poderosas: “só os oligarcas e o sistema poderiam matá-lo”, acusou a primeira-dama.
Sem respostas sobre o crime, o governo haitiano pediu ajuda às Nações Unidas para fazer uma investigação internacional sobre os mandantes do assassinato.
A carta enviada no dia 3 de agosto, assinada pelo ministro de Relações Exteriores do Haiti, pede a formação de uma comissão de investigação internacional por conta do possível papel de estrangeiros no planejamento, financiamento e na execução do atentado.
Tereza Sobreira/ Fotos Públicas
Governo haitiano pediu ajuda às Nações Unidas para fazer uma investigação internacional sobre assassinato
País mergulhado na crise
Desde a morte de Moise, a classe política e a sociedade civil não conseguem chegar a um acordo para o nome de um presidente provisório.
O nome do senador Joseph Lambert, apoiado pelo Parlamento, é rejeitado por parte importante da população. Isso porque o Congresso haitiano é considerado disfuncional desde o início de 2020, quando não foram realizadas as eleições que trocariam seus membros.
A incerteza política aprofunda a série de crises atravessadas pelo país. Para Jameson Saint-Hubert, morador da periferia de Porto Príncipe, “um país sem presidente é um país sem futuro”.
Alguns haitianos pedem que um dos juízes da Suprema Corte do Haiti seja o nome a tomar posse provisoriamente do governo, possibilidade rejeitada pelos políticos.
“Desde o assassinato de Moise, a gente vê que o país continua sem sair do lugar. A gente não entende os políticos, não há uma proposição de verdade para sair dessa crise”, queixa-se um habitante de Gonaives.
“O atual governo é ilegal, ilegítimo e não faz nada pela população”, diz outro morador.
Em meio a uma onda de violência que atinge a capital do país, organizações de ajuda internacional estão deixando o Haiti por se sentirem incapazes de garantir a segurança de seus voluntários.
Nesta semana, a Médicos sem Fronteiras anunciou sua saída definitiva de Porto Príncipe por conta do aumento dos confrontos entre grupos armados no bairro de Martissant, na capital haitiana.
“Estamos abandonados a nossa própria sorte. Não temos nem presidente, ninguém fala sobre quem são os culpados, é como se quisessem abafar todo o caso”, lamenta uma jovem haitiana.
(*) Com informações de Mikaël Ponge, da RFI.