Considero ter planejado com razoável precisão a vida que estamos levando na Austrália. Existe, contudo, um fator o qual me pegou completamente desprevenido: Baratas.
Sendo claro: VI MAIS BARATAS NOS SEIS PRIMEIROS MESES VIVENDO EM SYDNEY QUE NOS OUTROS 37 ANOS DE VIDA. Não há exagero nessa frase. No calor, são três ou quatro por noite.
Se você cogita deixar o Brasil e baratas forem uma questão dramática na sua vida, saiba que esta ilha não é para você.
Ao indagar os locais sobre como resolver o problema, normalmente a resposta vem ao estilo É MELHOR JAIR SE ACOSTUMANDO. Elas são muitas, de várias raças e, como de praxe na fauna local, de tamanhos excessivos.
Com o tempo, algumas até parecem bonitas, como uma espécie grandona listrada em degradê, num tom preto esverdeado, endêmica em nossa primeira morada.
Mais que fartas e excessivas, o comportamento delas é um tanto insolente se comparada com a barata brasileira. Não há respeito algum. Não esqueço, ainda nos primeiros meses, de uma madrugada na qual rumei sedendo para a cozinha e, ao olhar para a sala de soslaio, avistei um artrópodo do tamanho de um humano de pequeno porte sentada em frente à TV tranquilamente, como se aguardasse que eu ligasse o Netflix pra ela. Seguiu balançando as antenas ante minha insignificância humana. E não era a única no recinto: as noites são verdadeiras baladas da espécie. Talvez paguem o aluguel a alguma barata dona do apartamento e reclamam ter que dividir o espaço com humanos enquanto elas dormem.
Nesta madrugada, ao acordar de sonhos intranquilos (na verdade Leonel estava resfriado, grudado no pescoço da Anay e pediu água), acendi a luz da cozinha e me deparei com um exemplar do tamanho de um Fiat Uno gentilmente se roçando na manteigueira. Irritado, tentei bater o pé pra ver se corria, mas fui fitado com altivez como se ela dissesse HMMM MACHÃO, VAI PEGAR O CHINELINHO, VAI?
Há de se ter certa destreza para, sonado e preocupado com o rebento chorando no quarto, manipular dois chinelos para que, com um, jogar o bicho longe da pia, e com o segundo finalizá-la, e daí sinalizar onde o bicho foi trucidado para que seja feita a devida limpeza na manhã seguinte. E, aí sim, levar o copo d'água para o quarto.
Se tem uma coisa que aprendi na Austrália é que aqui a Natureza está sempre lembrando que, no final, é ela que manda.
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