O linguista norte-americano Noam Chomsky, o músico Roger Waters e o diretor do Instituto Tricontinental de Pesquisa, Vijay Prashad, assinaram nesta terça-feira (15/06) uma declaração alertando sobre um possível golpe judicial no Peru após as eleições presidenciais.
O trio avalia que, até a apuração deste momento, com 99,985% das atas contabilizadas, Pedro Castillo, do Peru Livre, venceu as eleições. No entanto, os intelectuais apontam que “nenhum vencedor foi nomeado” pelo Órgão Nacional de Processos Eleitorais (ONPE) peruano, pois Keiko Fujimori, do Força Popular, “amarrou o processo em ações judiciais maliciosas”.
Para eles, os “comentários racistas” dos fujimoristas e o “poder do dinheiro nos tribunais” do país “ameaçam a integridade das eleições presidenciais de 2021”. Com isso, Chomsky, Waters e Prashad afirmam que estão ao “lado do povo do Peru” e contra um “golpe judicial em andamento diante de nossos olhos”.
Ainda segundo a nota, a candidata ultradireitista “se recusa a ceder” e reconhecer a vantagem de Castillo, que tem uma diferença de 44.816 votos em relação sua adversária.
“Seus defensores, incluindo o ex-candidato à presidência, Mario Vargas Llosa, desacreditaram abertamente os cidadãos peruanos, especialmente a base rural do Peru Livre”, disse o trio.
A declaração foi emitida após Keiko voltar a falar em fraude nas eleições, mesmo sem apresentar provas das acusações. A filha do ex-ditador Alberto Fujimori chegou a dizer que a “esquerda internacional” estaria tentando modificar o resultado do pleito.
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Com apuração em 99,985% das atas contabilizadas, Castillo tem uma diferença de 44.816 votos em relação sua adversária Keiko Fujimori
Após as declarações, Keiko participou de uma marcha a seu favor em Lima e defendeu os pedidos de recurso que apresentou ao Júri Nacional Eleitoral (JNE). “O que não pode acontecer é que escondam todas as falcatruas que fizeram nas mesas”, disse.
Embora insista no discurso de fraude, Keiko não apresentou provas das suas acusações e foi desmentida por observadores internacionais que acompanharam a eleição.
Para repudiar as acusações sem provas de supostas fraudes no pleito feitas por Keiko e pedir que os resultados da votação sejam respeitados, milhares de apoiadores do candidato de esquerda à Presidência do Peru foram às ruas de Lima na noite de sábado. Em concentração em frente à sede do partido Peru Livre na capital peruana, movimentos sociais e militantes da legenda defenderam a vantagem que Castillo possui na apuração.
Manobra para reverter vantagem de Castillo
Na última sexta-feira (11/06), o JNE havia decidido, contrariando a legislação peruana, prorrogar o prazo para recebimento de recursos que poderiam anular votos das eleições. Após várias reações negativas e condenações por parte do partido Peru Livre, o júri voltou atrás e, por três votos a um, suspendeu a medida.
Apesar de legalmente oferecer a possibilidade para ambos os partidos apresentarem novos recursos, a ação poderia beneficiar a candidata de extrema direita. Ainda na noite de sexta-feira, o JNE emitiu uma nota confirmando a reversão da medida e afirmando que o pedido para prorrogar o prazo para a apresentação de recursos foi apresentado pelo partido da candidata derrotada, Keiko Fujimori.