Atualizada às 18h21
Com propostas de esquerda voltadas para a classe trabalhadora e concorrendo em um partido que se identifica como marxista, o presidente eleito do Peru, Pedro Castillo, venceu o 2º turno das eleições presidenciais e foi o mais votado em nove das dez regiões mais pobres do país. Três em cada quatro votos deste grupo de departamentos (o equivalente aos Estados) foram para o candidato do Peru Livre.
Com base em dados divulgados pelo Órgão Nacional de Processos Eleitorais do Peru (ONPE) e no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de cada departamento (o equivalente a Estados) do país, é possível observar o desempenho vitorioso de Castillo sobre sua rival, a ultradireitista Keiko Fujimori, entre a população mais pobre.
O IDH é uma medida comparativa adotada pela ONU desde os anos 1990 para avaliar o desenvolvimento humano de populações, sendo composto a partir de dados como expectativa de vida, nível de escolaridade e distribuição per capita do PIB. O índice é dividido em faixas, que vão desde baixo (abaixo de 0,500), passando por médio (entre 0,500 e 0,799), alto (0,800 a 0,899) e muito alto (acima de 0,900)
Em Huancavelica, o departamento com o IDH mais baixo do Peru, o presidente eleito obteve uma das votações mais expressivas das eleições de 2021: recebeu 84,85% dos votos contra 15,14% da filha do ex-ditador Alberto Fujimori. Em números de votos, a diferença fica ainda mais evidente, pois Castillo conquistou 136.255 votos a mais do que Keiko.
Os dados apresentados neste texto foram colhidos por Opera Mundi no dia 10/06, quando a apuração alcançava mais de 98%. Outros quatro departamentos que estão entre os mais pobres – Huánuco, Ayacucho, Madre de Dios e Amazonas – também merecem destaque, já que em todos eles, Keiko Fujimori havia sido a mais votada nas últimas eleições presidenciais, em 2016.
Concorrendo contra Pedro Pablo Kuczynski, que acabou saindo vitorioso do pleito anterior e se tornando presidente, Keiko obteve mais de 165 mil votos em Huánuco e mais de 135 mil em Ayacucho – o que, apesar de estreita margem, acabou dando vitória para a conservadora nessas regiões.
Em Madre de Dios e Amazonas, a vantagem de Fujimori foi um pouco maior, tendo superado PPK por 19 mil votos no primeiro e 8.200 votos no segundo.
Entretanto, em 2021, Castillo venceu com folga nos quatro departamentos, revertendo o cenário de 2016. Em Huánuco, conquistou 67,7% dos votos e abriu uma diferença de mais de 133 mil votos sobre Keiko. Já em Ayacucho, o candidato de esquerda se superou, alcançando 82,6% dos votos e derrotando a ultradireitista por mais de 210 mil votos de diferença.
Madre de Dios e Amazonas deram ao professor 71% e 66,7%, respectivamente.
Quase 90% em Puno
Ainda entre os departamentos mais pobres, foi em um deles que Castillo conseguiu sua votação mais expressiva. Região que abriga a parte peruana do Lago Titicaca, Puno é o 5º maior departamento em extensão no país e deu ao presidente eleito mais de 645 mil votos, o que representou quase 90% da votação local. A diferença sobre Keiko foi de mais de 567 mil votos.
O quinto departamento mais pobre do país também deu mais votos a Castillo. Cajamarca, além de ser uma das maiores áreas rurais peruanas e ter uma base forte do partido Peru Livre, é onde o presidente eleito nasceu. Em sua região natal, o professor conquistou 71% dos votos e abriu uma diferença de mais de 300 mil votos sobre sua rival.
Tacna e Apurímac completam a lista dos nove entre os dez departamentos mais pobres que contribuíram para eleger Castillo. No primeiro, o candidato da esquerda venceu por 72,5% a 27,4%, enquanto no segundo conquistou mais de 81% contra apenas 18% dos votos obtidos por Keiko.
Sobre a candidata de extrema direita, vale destacar que ela venceu em cinco dos dez mais pobres em 2016, mas conseguiu vencer em apenas um desses distritos nas eleições de 2021. 65,8% dos eleitores do departamento de Tumbles votaram em Keiko no pleito deste ano, superando os 34% conquistados por Castillo.
Os 10 mais ricos
Embora a votação de Castillo tenha sido muito expressiva nos departamentos mais pobres, fator que contribui para sua vitória a nível nacional, entre as regiões mais ricas o candidato de esquerda também teve bom desempenho e conseguiu vencer em seis dos dez distritos com o IDH mais elevado do país.
Arequipa, Junín, Cusco, Ancash, San Martín e Pasco entregaram mais votos ao novo presidente do que à filha do ex-ditador Fujimori. Entre essas regiões, Cusco merece destaque, por se tratar de uma das maiores regiões rurais do país e que, como era avaliado inclusive pela campanha de Castillo, era o departamento onde o Peru Livre poderia ter melhor desempenho. O departamento deu ao novo presidente 82,2% dos seus votos, 482 mil a mais do que Keiko recebeu.
No departamento de Arequipa que, além de ser o 2º mais populoso tem o segundo maior IDH do Peru, Castillo venceu com uma margem de 254 mil votos de diferença, tendo recebido 64,8%.
Vale destacar que entre os dez departamentos mais ricos, Castillo “virou” em apenas três – Junín, Ancash e San Martín – revertendo a decisão de 2016, onde Keiko havia saído vencedora nessas regiões. Arequipa, Cusco e Pasco continuaram a votar no rival da conservadora, já que, no último pleito deram mais votos a PPK e, em 2021, ao candidato do Peru Livre.
Lima, o departamento que abriga a capital peruana e que é tanto o mais populoso, quanto o que possui o maior IDH, entregou 64,6% de seus votos a Keiko nessas eleições. A conservadora superou Castillo por 1.792.811 votos de diferença e venceu na região, revertendo o quadro de 2016, quando perdeu para PPK com uma diferença de apenas 0,2% dos votos.
Panorama geral
Castillo ganhou em 16 das 25 regiões do Peru, enquanto que Keiko ficou com as nove restantes. O resultado é superior ao obtido por PPK na última eleição.
Em 2016, o rival de Fujimori venceu em 11 departamentos, um resultado menor do que obtido pela candidata de direita, que foi a mais votada em 14 regiões. No pleito deste ano, Castillo conseguiu “virar” em sete Estados que haviam dado seus votos majoritariamente a Keiko: Junín, Ancash, San Martín, Madre de Dios, Amazonas, Huánuco e Ayacucho.
A conservadora, por sua vez, foi capaz de reverter resultados em apenas dois departamentos que haviam dado mais votos a PPK: Lima e Loreto.