A conquista normanda da Inglaterra foi uma invasão e ocupação ocorrida no século XI, iniciada em 27 de setembro de 1066 por um exército formado de normandos, bretões e franceses, comandado pelo duque Guilherme (ou William) II da Normandia.
Guilherme derrotou Haroldo II da Inglaterra na batalha de Hastings em 14 de outubro de 1066. Foi coroado rei no Natal daquele ano. Consolidou seu controle sobre o país, estabelecendo muitos de seus seguidores, o que supôs a introdução de mudanças políticas, econômicas e sociais.
Ele reivindicou o trono inglês amparando-se em seu parentesco com o rei anglo-saxão Eduardo o Confessor, morto em princípios de 1066. A circunstância deste não ter descendência alentou o desejo do normando de conseguir sua entronização.
Eduardo, que tinha passado muitos anos no exílio na Normandia, assumiu o trono inglês em 1042. Isto o levou a criar um grande interesse normando pela política inglesa e Eduardo buscou apoio em seus antigos anfitriões e se cercou de cortesãos, soldados e clérigos normandos, nomeando-os para postos de importância. Sem filhos e envolvido num conflito com o poderoso Godwin de Wessex, Eduardo pode ter estimulado as ambições do duque Guilherme da Normandia ao trono inglês.
Houve disputa sucessória entre numerosos aspirantes. O sucessor imediato de Eduardo era Haroldo Godwinson, conde de Wessex, o aristocrata mais rico e poderoso da Inglaterra, eleito rei pelo Witenagemot da Inglaterra e coroado pelo arcebispo de York, Aldred.
Contudo, Haroldo foi desafiado por dois poderosos pretendentes. O duque Guilherme afirmava que o rei Eduardo lhe havia prometido o trono e que Haroldo jurara aceitar.
Harald III da Noruega, conhecido como Harald Hardrada, também impugnou a sucessão. Sua pretensão se baseava em um acordo entre seu predecessor, Magnus I, e o anterior rei da Inglaterra, Canuto Hardeknut, que, se morresse sem herdeiro, permitia ao outro herdar Noruega e Inglaterra. Tanto Guilherme quanto Harald prepararam suas tropas e barcos para a invasão.
Harald invadiu o norte da Inglaterra em setembro de 1066, conquistou a vitória na Batalha de Fulford antes de ser derrotado por Haroldo na Batalha de Stamford Bridge em 25 de setembro desse ano.
Paola Orlovas
Guilherme derrotou Haroldo II da Inglaterra na batalha de Hastings em 14 de outubro de 1066
No entanto, Guilherme havia desembarcado no sul e Haroldo marchou rapidamente para enfrentá-lo. Em 14 de outubro ambas as forças se chocaram perto de Hastings. Haroldo foi derrotado e morto em combate.
Embora tenha eliminado seu principal rival, Guilherme teve de enfrentar numerosas rebeliões e só em 1072 viu consolidado seu poder. A resistência inglesa levou a que grande parte da elite britânica perdesse suas terras e tivesse de exilar-se. Com o fim de controlar o reino, Guilherme deu terras aos seus próximos, e construiu castelos e fortalezas por todo o país.
Os conquistadores introduziram a língua francesa e remodelaram a composição das classes altas. Não está claro até que ponto esta conquista influiu no povo inglês, mas uma mudança importante foi a abolição da escravatura, que pode ou não ser debitado à invasão.
Houve poucas mudanças na estrutura de governo, pois os normandos adotaram o modelo de domínio anglo-saxão.
Os normandos – 8 mil segundo os historiadores, e isto somando-se oriundos de outras regiões da França – eram poucos comparados com os nativos. Os seguidores de Guilherme esperavam ser recompensados com terras por serviços prestados durante a invasão.
No entanto, o rei reivindicou a posse de todas as terras inglesas sobre as quais seu exército tinha o controle de facto e afirmou o direito de dispor delas à vontade. As terras foram distribuídas de maneira pouco sistemática, sem divisão regular nem terrenos agrupados ou contíguos. Um senhor normando típico possuía terras dispersas pela Normandia e Inglaterra, em vez de um único bloco geográfico.
Para recompensar os seus, Guilherme confiscou inicialmente as propriedades dos senhores que lutaram e morreram junto a Haroldo e as redistribuiu em parte.
Estes confiscos provocaram revoltas que redundaram em mais confiscos, um círculo que não se rompeu nos cinco anos subsequentes à Batalha de Hastings. Para sufocar e evitar novas revoltas, os normandos construíram castelos e fortificações em número sem precedentes.
O historiador Robert Liddiard ressaltou que “ao lançar-se uma vista geral à paisagem de Norwich, Durham ou Lincoln o observador vê-se obrigado a recordar o impacto da invasão normanda”. Guilherme e seus barões exerceram também um controle mais estrito sobre as heranças propriedade de viúvas e filhas, em muitas ocasiões forçando casamentos com normandos.
Uma demonstração do êxito de Guilherme é que, desde 1072 até a conquista da Normandia pela dinastia dos Capetos em 1204, Guilherme e seus sucessores foram governantes frequentemente ausentes da Inglaterra.
Como exemplo, depois de 1072 Guilherme passou mais de 75% de seu tempo na França, visto que, enquanto necessitava estar presente na Normandia para defender seus domínios da invasão estrangeira e sufocar revoltas internas, na Inglaterra foi capaz de criar estruturas administrativas reais que lhe permitiram governá-la à distancia.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.