No dia 4 de outubro de 1945, foi iniciado o julgamento do ex-vice-presidente do governo de Vichy, Pierre Laval. Perante a alta corte, ele teve de explicar seu papel durante a colaboração com o
nazismo e sua aliança com o regime de Hitler.
O julgamento transcorreu celeremente e Laval teve de ouvir os insultos dos jurados. Foi condenado à
morte em 9 de outubro e executado no dia 15 na prisão de Fresnes depois de ter tentado se suicidar.
Nascido em 28 de junho de 1883 em Auvergne, Laval exerceu a advocacia entes de se lançar na política. Foi eleito deputado de Aubervilliers
em 1914, e senador em 1927. Diversas vezes ministro, tornou-se chefe do governo
em 1931, ministro dos Negócios Estrangeiros em 1934 depois de novo presidente
do Conselho, em 1935.
Laval negociou um tratado com Mussolini e assinou um pacto
de assistência mútua com Stalin. Em junho de 1940, quando a Alemanha invade a França, Laval mostra-se partidário do armistício. Torna-se vice-presidente do governo formado pelo marechal Pétain.
Persuadido de poder manobrar não importa quem, tratou de negociar com os alemães para atenuar os rigores da ocupação. Esta escolha lhe impôs tomar medidas humilhantes e desumanas: prisão e deportação de judeus, trabalhos forçados e escravos. Após a ‘débâcle’ do 3º Reich, Laval tornou-se um proscrito. Preso, seu processo, que suscitaria um desencadeamento de paixões, foi atabalhoado.
Ele teve três advogados, Jaques Baraduc, Albert Naud e Yves
Jaffré. Nenhum deles o conhecia. Jaffré se mostrou disposto a ouví-lo e tomar nota do que queria ditar. Baraduc, convencido da inocência de Laval imaginou que seria inocentado, ou na pior das hipóteses receberia uma sentença de exílio temporário. Naud, que havia sido membro da Resistência, acreditava que seria julgado culpado e sugeriu-lhe que admitisse ter cometido graves erros, mas sob brutais constrangimentos.
Nenhum dos advogados compareceu à corte para ouvir a leitura das acusações. Em vez de comparecer às sessões, enviaram cartas, expondo as falhas processuais e pedindo ser desonerados da tarefa de defender Laval.
O presidente da Corte, Pierre Mongibeaux, anunciou que o julgamento deveria se encerrar antes das eleições gerais marcadas para 21 de
outubro. Os procuradores Mongibeaux e Mornet mostraram-se incapazes de controlar as constantes explosões hostis dos jurados. Isto ocorreu à medida que o debate entre Mongibeaux e Laval se tornou mais e mais acalorado.
Paola Orlovas
Perante a alta corte, Pierre Laval teve de explicar seu papel durante a colaboração com o nazismo
No terceiro dia, os advogados de Laval decidiram comparecer por pressão da Associação dos Advogados que os alertou que deveriam reassumir seus deveres.
Após a suspensão dos trabalhos, Mongibeaux anunciou que a parte do interrogatório que tratava da acusação de conspiração contra a segurança do Estado estava concluída, propondo então que se tratasse da acusação de colaboração com o inimigo.
“Monsieur, sou vítima de um crime judicial e não quero ser cúmplice. Prefiro manter-me calado”, interrompeu Laval.
Embora Pierre Teitgen, ministro da Justiça do gabinete de Charles de Gaulle, tivesse solicitado aos advogados que insistissem no comparecimento de Laval às sessões, ele declinou. O julgamento continuou sem a presença do acusado, terminando com a sua condenação à morte. A petição para um novo julgamento foi rejeitada.
A execução foi fixada para a manhã de 15 de outubro. Laval tentou evitar o pelotão de fuzilamento ao ingerir o veneno de uma ampola que estava alinhavada dentro de seu paletó desde os tempos de guerra. O veneno, no entanto, era tão velho que se tornou ineficaz e a lavagem estomacal fez Laval se recompor.
Laval pediu que seus advogados testemunhassem a execução. Foi fuzilado, gritando “Vive la France!”.
A Alta Corte, que funcionou até 1949, julgou 108 casos, pronunciando 8 sentenças de morte, inclusive a do marechal Pétain, que não foi levada a cabo devido a sua idade.
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(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.