No dia 21 de maio de 1536, em Genebra, o Conselho dos 200 cede aos apelos de Calvino e se pronuncia em favor da Reforma religiosa. A pequena república urbana passaria então a ser a sede europeia do calvinismo, a forma mais rigorosa do protestantismo.
Segunda grande figura da Reforma depois de Lutero, Calvino nasceu em 10 de julho de 1509, em uma família da pequena burguesia de Noyon, na França. Desde os 12 anos, recebeu benefícios eclesiásticos que lhe renderam os recursos necessários para se formar.
Estuda no colégio de La Marche, em Paris, onde aprende latim, grego e hebraico. Demonstra desde cedo notáveis qualidades dialéticas. Renuncia ao sacerdócio e abraça o direito e a magistratura, movido pelo desejo de escrever e publicar. Adotando o nome de Calvinus, segundo os costumes da época, segue com seus estudos em Paris, Orleans e Bruges.
Em 1533, a defesa de Lutero e das 95 Teses o compromete. Foge para Nérac em busca da proteção de Margarida de Navarra, irmã de Francisco I. Depois iria para a Basileia. Nesta cidade publica sua maior obra maior, A Instituição da Religião Cristã, dedicada ao rei Francisco I.
Nela, Calvino retoma as principais ideias de Lutero: cada qual está só diante de Deus e a hierarquia eclesiástica deve ser definida segundo a fórmula de São Paulo. “Portanto, que todos nos consideremos como servos de Cristo e encarregados dos mistérios de Deus” (1 Co 4:1). Calvino desenvolve, de resto, a ideia de predestinação: como Deus e todo-poderoso, a salvação, ou seja, a vida eterna, é outorgada por uma decisão divina incompreensível aos homens
Prega uma religião despojada de seus ritos e da maior parte dos sacramentos, mantendo apenas dois dos sete: o batismo e a eucaristia. Rejeita o culto dos santos e a devoção à Virgem Maria, mãe de Cristo.
A obra conquista um sucesso imediato. Calvino, a partir de então, iria instaurar em Genebra uma ditadura moral sob a forma de rígidos ordenamentos. Redige um catecismo – explicação da doutrina sob forma de perguntas e respostas simples – ao qual todos deveriam aderir sob pena de exílio.
Entretanto, um partido de cidadãos libertinos resiste às exortações e, em particular, à exigência de poder excomungar os recalcitrantes. Em 1538, esses opositores prosperam e obrigam Calvino, Farel e outros a deixar Genebra.
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Ao final da vida de Calvino, havia pelo mundo mais calvinistas que luteranos.
Em Estrasburgo, Calvino apoia outro pregador protestante, Martin Bucer. Aprende a temperança e o compromisso. Aproveita também sua estada na Alsácia para se casar com a viúva Idelette de Bure.
Enquanto isso, em Genebra, os libertinos rendem-se e seus mentores são obrigados a abandonar a cidade. Genebra multiplica os apelos para que Calvino retorne. Isso ocorreria em 15 de setembro de 1541. Um consistório composto de pastores e leigos iria governar a cidade com a assistência de doutores, anciãos e diáconos sob a forma de uma teocracia.
Disposições administrativas, denominadas artigos e ordenamentos, ou teológicas, como o Catecismo de Genebra, materializam o comando da cidade. Ela receberia o título de Roma Protestante, atraindo simpatizantes de toda a Europa.
A religião, segundo Calvino, devia ser marcada pela austeridade. Nem ornamentos, nem luxo, nem festividades. A música, o teatro, o baile e a vida mundana são proscritos. O próprio pregador dá exemplo de uma vida ascética. Impõem-se rigorosas privações.
As ideias de Calvino tinham uma visão retrógrada. Viam a Terra como centro do Universo, mesmo muito tempo depois de Copérnico. Não toleravam o inconformismo.
Preocupavam-se, sobretudo, com a formação de seus pastores e ministros do culto. Para tanto, funda o Colégio e a Academia de Genebra em 1559, que chegou a contar com 1500 alunos. Inspirando-se em seu exemplo, a Igreja Católica, imediatamente após o Concílio de Trento, iria abrir um seminário em cada diocese a fim de melhorar a formação de seus padres.
Alunos de toda a Europa, em particular dos Países Baixos e da França, se inscrevem na Academia para receber a formação de autênticos pastores. “Deem-me a madeira e eu lhes entregarei as flexas”, exclamava Calvino aos reformadores de todas as tendências.
Calvino iria desenvolver uma atividade insaciável, de modo que, por ocasião de sua morte, em 27 de maio de 1564, aos 54 anos, havia pelo mundo mais calvinistas que luteranos.
Também nesse dia:
1927 – Charles Lindbergh completa o primeiro voo transatlântico sem escalas
1894 – Morre Émile Henry, anarquista francês.
1904 – É fundada a FIFA (Féderation Internationale de Football Association).
1990 – Iêmen e Iêmen do Sul acertam unificação.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.