O comandante Donatien de Rochambeau e seus homens, esgotados por quase dois anos de Guerra de Independência e dizimados pela febre amarela, capitulam diante das forças revolucionárias haitianas em 18 de novembro de 1803.
O general Jean-Jacques Dessalines, sucessor de Toussaint Louverture proclamaria a independência da ilha em 1º de janeiro de 1804, após as guarnições napoleônicas terem se rendido. Saint Domingue retomaria o nome dado por seus primeiros habitantes, os indígenas Arawaks: Haiti.
Os franceses haviam ocupado essa área, que se tornou a mais próspera das colônias francesas, com uma economia baseada na produção de açúcar por meio de trabalho escravo. Calcula-se que em média eram importados 30 mil pessoas escravizadas por ano do atual Benin e Senegal.
Em 1789, por volta de 85% dos quase 800 mil habitantes eram escravizados, além de 30 mil negros livres e 40 mil brancos. Estes se dividiam entre funcionários coloniais civis e militares, profissionais liberais e donos de plantações.
Negros livres detinham parte da riqueza da colônia, mas não gozavam de quaisquer direitos. Diante desse quadro social surgiram rebeliões a de 1758, sob a liderança de François Makandal.
A Revolução Francesa, em 1789, teria reflexos profundos na situação colonial. A convocação de uma assembleia em 1791 em que só os brancos tinham direito de enviar representantes, provocou a rebelião de Vincent Ogé, logo sufocada.
Em agosto do mesmo ano, explode um movimento rebelde sob comando de Dutty Boukman, que incendiava plantações, casas, e matava brancos sem distinção de idade ou sexo.
Os grandes plantadores não tinham a menor simpatia pelo ideário de liberdade e igualdade da Revolução Francesa. Em 1793, França e Espanha entram em guerra. O governador da parte espanhola da ilha, com apoio inglês, hostiliza a parte francesa, contanto com o apoio dos monarquistas franceses e demais partidários da escravidão.
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Se instalava a primeira república negra e a segunda a ficar independente nas Américas
A ascensão ao poder dos jacobinos na França e a decisão de abolir a escravidão nas colônias repercutem imediatamente em Saint Domingue. François Dominique Toussaint Louverture, que até aí lutara com os espanhóis, adere à República Francesa em maio de 1794.
Gozando de extraordinária influência sobre as massas escravas, derrota espanhóis, ingleses e o líder negro André Rigaud, manipulado pelos fazendeiros franceses.
Em 1801, Toussaint controlava toda a ilha. Além do talento militar, provaria ter grande capacidade política e administrativa. Uma Assembleia Constituinte elaborou uma Constituição, cabendo a ele o título de Governador Geral Vitalício.
A agricultura foi restabelecida como atividade econômica básica, eliminando-se a escravidão, mas mantendo o latifúndio exportador. Sua tentativa de constituir uma nação e um Estado unificados seria impedida pela diversidade cultural, mesmo entre os próprios negros e mulatos.
Em 20 de maio de 1802, Napoleão restabeleceu a escravidão nas colônias. No ano anterior já havia enviado o general Leclerc, para sufocar as rebeliões negras.
Toussaint se rende com outros líderes: Jean-Jacques Dessalines, Alexandre Pétion e Henri Christophe. Toussaint, enviado prisioneiro à França, morreu em 1803, aos 57 anos. Morto também o General Leclerc, seu sucessor, o General Rochambeau, implanta um clima de terror.
Em outubro de 1802, tomam novamente em armas Pétion e Dessalines, derrotando Rochambeau que se retira da colônia em 1803. A 1º de janeiro de 1804 proclama-se a independência de Saint Domingue, adotando o nome de Haiti. Se instalava a primeira república negra e a segunda a ficar independente nas Américas.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.