No dia 18 de julho de 1870, o Concílio Vaticano I definiu o dogma da ‘infalibilidade pontifícia’. Com esta decisão, os cardeais reconheciam como verdadeiras e irrevogáveis as interpretações do dogma pronunciado pelo soberano pontífice.
Convocado no ano precedente pelo papa Pio IX – cardeal Giovanni Maria Mastai-Ferretti -, o Concílio Vaticano I foi chamado de ecumênico visto que reuniu o conjunto dos bispos do mundo católico. Foi o primeiro a se desenrolar no interior das muralhas do Vaticano – daí o seu nome. O anterior concílio ecumênico tinha tido lugar em Trento, no norte da Itália, três séculos antes.
Vale lembrar que Jesus Cristo, nas origens do cristianismo, não deixou qualquer escrito. Seus ensinamentos nós são conhecidos somente por meio de quatro evangelhos escritos após sua morte.
Esses textos não tinham, no entanto, a pretensão de fixar dogmas, ou seja, verdades fundamentais e não contraditórias sobre as quais os cristãos devem se apoiar.
A Igreja Católica, bem como outras igrejas cristãs alimentaram-se ao longo dos séculos mais da Tradição do que das Sagradas Escrituras. A esta Tradição se reconheceu o caráter de infalibilidade, estando entendido que a comunidade cristã não pode unanimemente enganar-se sobre as coisas da religião.
Nessa direção, os fiéis dos primórdios do cristianismo evocavam o célebre adágio: “Vox Populi, vox Dei” (‘A voz do povo é a voz de Deus”) para traduzir essa infalibilidade.
Além disso, os próprios clérigos reconheciam o caráter infalível da Tradição aplicando a ela o cânone de São Vicente de Lerins, morto em 450: “Quod ubique, quod semper, quod ab omnibus creditum est” (É necessário cuidar que se sustente sempre o que todos acreditamos e em todo lugar).
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Papa Pio IX, o primeiro pontífice a ser fotografado, em 1875
O Concílio Vaticano I reservou ao papa a infalibilidade em matéria de dogma. Porém com uma nuance: suas decisões só teriam valor se fossem pronunciadas de maneira solene, diante do povo, ex cathedra, o que seria uma maneira de respeitar a democracia dos primórdios. Note-se que a infalibilidade não se aplicava às decisões ordinárias do soberano pontífice, em matéria de disciplina, de moral ou de gestão dos negócios rotineiros.
Até o começo do século 20, a maioria dos católicos ignorava o nome de seu papa. Hoje, o soberano pontífice figura entre as personalidades mais midiáticas do globo, como, com efeito, foi o exemplo de João Paulo II e agora é o de Francisco. É o resultado mais evidente do Concílio Vaticano I.
Alguns meses mais tarde, em 20 de setembro de 1870, as tropas do rei da Itália ocupavam Roma. Era o fim dos Estados Pontifícios. Pio IX se considerava prisioneiro no Vaticano e até seu falecimento em 7 de fevereiro de 1878 iria combater a ascensão do anticlericalismo e das ideologias laicas da Europa ocidental.
Também nesta data:
1610 – Morre Michelangelo Caravaggio, célebre pintor italiano
1817 – Morre a romancista inglesa Jane Austen
1925: Sete meses depois de sair da prisão, Hitler publica “Mein Kampf”
1940 – Roosevelt é nomeado candidato democrata à Presidência pela terceira vez
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.