Em 11 de abril de 1919, é fundada em Paris a OIT (Organização Internacional do Trabalho) como uma agência independente filiada à Liga das Nações.
O apelo por condições de trabalho mais justas e equânimes e a melhoria das condições de vida para os trabalhadores em todo o mundo começou a ser ouvido muito antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial.
Quando a Revolução Industrial estendeu-se da Inglaterra e da França para o resto da Europa ao longo do século 19, isto alterou completamente o panorama econômico e social do continente e finalmente do mundo todo.
Entre os primeiros defensores de uma organização internacional que pudesse regulamentar o trabalho encontravam-se Robert Owen, um socialista galês e fundador do primeiro sindicato britânico de trabalhadores em 1833; Charles Hindley (1800-1857), um tecelão e membro do parlamento britânico de 1853 a 1857; e Daniel Legrand, industrial, filantropo e escritor francês.
Embora esses pensadores estivessem à frente de seu tempo, a destruição sem paralelo trazida pela Grande Guerra de 1914-1918 levaram os líderes mundiais a apoiar a ideia de uma tal organização, não somente para regular os padrões de trabalho para uma população de trabalhadores industriais que crescia firmemente em todos os quadrantes, mas também para preservar a paz numa atmosfera volátil que se seguiu à guerra.
A criação de uma organização internacional do trabalho como uma agência independente porém afiliada à Liga das Nações foi visto pelos seus fundadores como parte necessária e vital da própria Liga. O estatuto da OIT, escrito entre janeiro e abril de 1919 por uma comissão de representantes de nove países: Bélgica, Cuba, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Polônia, Reino Unido e Tchecoslováquia, presidida por Samuel Gompers, chefe da Federação Americana do Trabalho (AFL, na sigla em inglês), tornou-se finalmente parte do Tratado de Versalhes.
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Robert Owen, Charles Hindley e Daniel Legrand estão entre os primeiros defensores de uma organização que pudesse regulamentar o trabalho
Seu preâmbulo começa com uma declaração de finalidade: “A Liga das Nações tem por objeto o estabelecimento da paz universal e essa paz só pode ser estabelecida tendo por base a justiça social.” E prosseguiu, expondo a tripla motivação subjacente à criação da OIT. Primeiro, era necessário melhorar as condições do trabalhador médio, que sem regulação estaria submetido crescentemente à exploração dos donos de empresa, inclusive longas horas, baixos salários e tratamento duro. Havia também uma motivação política: se essas condições não fossem melhoradas, o crescente descontentamento dos trabalhadores ao redor do mundo ameaçaria explodir com demonstrações de descontentamento de grande monta, tendo como decorrência uma revolução tal como havia ocorrido na Rússia em 1917 e em menor escala na Alemanha e no Império Austro-Húngaro perto do fim da guerra. Em terceiro lugar, sem padrões universais de legislação trabalhista a serem respeitados internacionalmente, qualquer país que instituísse reformas sociais poderia se ver em desvantagem econômica perante outros países.
A OIT é uma organização tripartite: metade dos membros do Conselho Executivo é indicada pelos vários governos, um quarto é de representantes dos patrões e um quarto de representantes dos trabalhadores. A primeira conferência Anual da OIT reuniu-se em Washington, em outubro de 1919, e emitiu as seis primeiras convenções, regulando entre outras questões, a limitação da carga horária, desemprego, proteção à maternidade e idade mínima. No verão seguinte, a OIT criou um secretariado permanente e instalou-se definitivamente em Genebra.
Apesar do notório enfraquecimento da Liga das Nações nos anos pós-guerra, a OIT floresceu ainda quando sua missão tenha se estendido de simplesmente estabelecer padrões trabalhistas universais para a proteção de direitos humanos mais amplos e para a cooperação técnica com os países em desenvolvimento. Em 1946, após a Segunda Guerra Mundial, a OIT tornou-se a primeira agência especializada da Organização das Nações Unidas, criada em substituição à Liga. Dos 45 países-membros originais em 1919 já em 1969 eram 121. Neste mesmo ano, ao comemorar o cinquentenário de sua fundação, a OIT foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.