Em 24 de fevereiro de 1956, em sessão secreta no 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética, o primeiro-secretário Nikita Khruschov pronunciou um discurso que causaria profundo abalo na política soviética e no movimento comunista internacional. Durante sete horas, leu um relatório minucioso sobre os “expurgos stalinistas”, questionando as qualidades militares do “guia genial dos povos”.
Apenas os delegados do encontro puderam ver e ouvir, ao vivo, o relatório em que o sucessor de Lênin foi acusado de ter “violado a legalidade socialista” e desenvolvido a prática do “culto à personalidade”, contrário aos “princípios leninistas”.
Khruschov citou nominalmente as lideranças do PCUS que foram executadas nos famosos “processos de Moscou”, na década de 1930, apontou as violências praticadas pela polícia política, os erros estratégicos de Stálin durante a guerra contra o nazi-fascismo e seu comportamento quase paranoico depois da guerra até a morte, em março de 1953.
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Três meses depois, o relatório foi divulgado integralmente pelo jornal norte-americano The New York Times.
A repercussão política foi enorme – não apenas na URSS, mas fora dela, principalmente nos partidos comunistas ocidentais que, de uma hora para outra, viram-se na urgência de revisar suas posições. O teor explosivo das denúncias de Khruschov gerou perplexidade nos dirigentes comunistas de todo o mundo, que chegaram a duvidar de sua existência.
No Brasil, o discurso gerou a dissidência de Agildo Barata, que era uma importante liderança, diretamente ligado a Luís Carlos Prestes.
As circunstancias em que Khruschov resolveu denunciar os erros e os “crimes de Stalin” até hoje são obscuras. Aparentemente, suas revelações foram feitas em meio a uma violenta luta interna do partido, onde se confrontavam os apegados ao passado stalinista e os partidários de certa renovação das instituições soviéticas – chamados pelos primeiros de “revisionistas”. Constantemente pressionado internamente e ameaçado de ficar em minoria, Khruschov teria jogado todas as suas fichas no congresso de 1956.
As acusações provocaram, entre outras, uma cisão irreparável entre o PC da URSS e o PC chinês de Mao Tsé-tung, que defendia a memória de Stálin.
Derrubado do governo em 1964, Nikita Khruschov morreu sete anos depois, esquecido.
Wikicommons
Khruschov e Stálin, em 1926