No dia 11 de julho de 711, as centenas de discípulos de Maomé derrotam as tropas de Rodrigue, o rei visigodo que governava a Espanha cristã. Modesta que possa ter sido, a Batalha de Guadalete iria entregar aos muçulmanos o domínio da maior parte da Península Ibérica por cerca de sete séculos.
Os visigodos, uma tribo germânica vinda do Além-Reno três séculos antes, haviam inicialmente criado um reino em torno de Toulouse. Foram então perseguidos por Clovis e seus francos e recuados para a península espanhola. Ao longo dos tempos, construíram na península um reino cristão relativamente próspero.
Mas eis que no alvorecer do século VIII, Wittiza, um rei visigodo, é derrubado de suas funções. Querendo se manter no trono, pede ajuda a um senhor muçulmano do Maghreb, o emir de Tanger, Mousa ibn-Nocair.
O fato é menos surpreendente do que parece, porquanto os cristãos do Ocidente tinham ainda naquela época uma noção bastante imprecisa do Islã e o viam antes como uma seita cristã do que uma religião rival. Mousa ibn-Nocair não se faz de rogado e envia ao seu novo amigo um batalhão do exército bérbere comandado por um jovem chefe, Tarik ibn Zyad.
Foi assim que em abril de 711, seis mil guerreiros, essencialmente berberes, desembarcaram na Espanha. O local do desembarque é dominado por um rochedo que tomaria o nome de Gibraltar – do árabe “djebel al Tarik”, a montanha de Tarik.
Tirando partido da impopularidade dos visigodos e fazendo pouco caso de Wittiza, os muçulmanos tomam sem dificuldades a região de Algesiras, avançando em seguida na direção de Córdoba e para o interior daquelas terras. Pouco demorou para se enfrentar com o exército do rei Rodrigue.
O confronto passou para a história, segundo os cronistas árabes, como a Batalha de Wadi Lakka, e Batalha de Guadalete pelos historiadores espanhóis. Todavia, permanece a incerteza sobre sua localização exata. Seja sobre as margens do Guadalete, um rio que desemboca na baía de Cádiz, seja sobre aquelas do rio Guadarranque, ou ainda nas bordas da lagoa La Janda, atravessada pelo afluente Barbate.
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Pintura retratando a Batalla de Guadalete, de Mariano Barbasán, de 1882
Se bem que os visigodos fossem superiores em número aos invasores, a vitória sorriu aos berberes em seguida à traição de dois irmãos de Wittiza. O rei Rodrigue morreu no confronto.
Tarik não teve grande trabalho em se apoderar das cidades meridionais: Córdoba, Sevilha, Granada. A ele se juntou rapidamente ao emir Mousa, desejoso de se apropriar do festim. Os vencedores passam a dominar em pouco tempo a maior parte da Espanha. Em poucos anos, a resistência cristã foi quase totalmente varrida. Subsistiu em alguns vales isolados da cadeia montanhosa cantábrica, no extremo norte da península.
Os invasores imediatamente depois atravessam os Pirineus. Mas tem de se enfrantar em Toulouse com o duque de Aquitânia. A vitória desse último devolve coragem aos visigodos refugiados nas montanhas cantábricas. Seu chefe Pelage bate os muçulmanos em Covadonga, perto de Oviedo. Esta batalha simboliza o início da reconquista da península pelos cristãos, período histórico conhecido como La Reconquista.
Também nesse dia:
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(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.