Terça-feira, 10 de junho de 2025
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Alegrai-vos. Alegrai-vos. A primeira corrente de vassalagem foi quebrada. Eles vão arrumá-la, sem dúvida, mas festejemos a independência enquanto dura. Pela primeira vez em cinquenta anos, a Câmara dos Comuns do Reino Unido votou contra a participação numa guerra imperial. Consciente da profunda e persistente oposição no país e no aparelho militar, os deputados decidiram representar a vontade do povo.

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Os discursos dos três líderes foram quase patéticos. Nem a emenda da oposição nem a proposta de guerra conseguiram reunir o apoio suficiente. Foi tudo o que precisávamos. Os cerca de trinta dissidentes conservadores que tornaram impossível a participação britânica, votando contra a sua liderança, merecem o nosso agradecimento. Talvez agora a BBC comece a refletir a opinião popular em vez de agir como a voz dos belicistas.

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Agência Efe

O Parlamento britânico, em rara ocasião, ouviu os apelos populares e decidiu não participar da intervenção na Síria

Tendo em conta o estatuto internacional britânico como comparsas de Washington no derramamento de sangue, esta votação terá um eco global. Nos próprios Estados Unidos, a votação em Londres fará crescer a inquietação, já bem evidente nos briefings off-the-record à imprensa dizendo que não existem provas sólidas que liguem o regime ao ataque com armas químicas. “O quê?”, perguntarão entre si os cidadãos norte-americanos. “O nosso seguidor mais leal está desertando nas vésperas dos ataques?”.

O que significa isto, não deveríamos estar debatendo o assunto? A linguagem de Obama nas entrevistas de 29 de agosto não foi diferente da de George W. Bush. Ele disse mesmo que a razão para o assalto previsto era que aquelas armas químicas “poderiam ser usadas contra os Estados Unidos”. Por quem? Pela Al Qaeda, etc. Desculpem. Mas eles não estão ao seu lado neste conflito e o objetivo dos ataques não é o de fortalecer um dos lados contra o outro nesta guerra civil repulsiva?
 

Pela primeira vez em 50 anos, Reino Unido vota contra participação do país em conflito imperial

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Entretanto, também na Europa a votação do parlamento britânico repercute como uma onda de choque. A elite alemã (à exceção do seu elemento Verde) tende a ficar nervosa com as guerras. Isso deixa François Hollande no papel do único apoiador entusiasta de Washington na primeira linha da UE.

Quem é agora o cavalo de Troia na Europa? Cameron culpou Blair e a Guerra do Iraque pelo ceticismo que predomina no país. É verdade. Mas não nos esqueçamos de que os conservadores também apoiaram solidamente essa guerra. Lembro-me de ter debatido na televisão nessa altura com Michael Gove [atual ministro da Educação]: ele era pior que a maioria dos apologistas de Bush nos Estados Unidos.

É verdade que se lhes mentem uma vez, as pessoas ficam menos inclinadas a acreditar novamente no governo sobre esses assuntos. Cameron até fez uma imitação aceitável de Blair, mas os tempos estão mudando. E não conseguiu convencer o seu próprio partido.

Enquanto isso, Washington está determinado a avançar sozinho com a França a reboque. É por isso que demasiados festejos são prematuros. A “Stop the War Coalition” britânica não tem equivalente na Europa ou na América. Mesmo em épocas de isolamento (a invasão e bombardeio da Líbia, por exemplo), a pressão manteve-se em alta.

(*) Tariq Ali é escritor paquistanês e ativista revolucionário estabelecido na Inglaterra. Publicado em Information Clearing House. Tradução de Luís Branco, do Esquerda.net.