Pela primeira vez na história registrada, o Golfo do México foi atingido por dois furacões simultâneos. Duas vezes na história, uma em 1933 e outra em 1959, duas tempestades tropicais se formaram simultaneamente na região. Mas nenhuma dessas viraram furacões. O principal fator que energiza uma tempestade tropical e a torna um furacão é o aquecimento das águas do oceano.
Na Califórnia, é temporada de incêndios florestais. O que seria um evento anual regular foi potencializado pelas temperaturas recorde e verão muito seco. As fotos de cidades da região com o céu avermelhado lembram a foto de São Paulo no dia 19 de agosto do ano passado. A secura de verão causada pelo aquecimento global veio para ficar. Na virada de 2019 para 2020, foi a Austrália que registrou queimadas recordes. E nesse inverno, regiões no interior do Círculo Ártico também sofreram incêndios e calor recordes.
Mas fez frio no Brasil mês passado, logo é impossível haver aquecimento global, certo? Errado.
O que todas essas situações tem em comum é o conceito de “evento climático extremo”. Segundo a Revista Brasileira de Climatologia, revista técnica do tema, os eventos climáticos extremos são aqueles que extrapolam os eventos habituais e também causam danos ao meio ou com potencial para danos. Quer sejam rompantes de frio ou calor, inundações ou secas, sempre que for fora do padrão, tratamos como evento extremos.
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Mundo precisa cobrar dos seus poluidores os estragos que a sujeira deles causa e que todos teremos que arcar
Nem todos os eventos extremos estão diretamente relacionados ao aquecimento global. Mas desde o início da década, a ONU já reconhece que o aumento dos casos de eventos extremos está relacionado com o aquecimento global. Foi a conclusão, por exemplo, do relatório climático 2011-2015. E também é a conclusão da CPI das Enchetes, realizada pela bancada do PSOL na Câmara de Vereadores: precisaremos investir mais em prevenção porque chuvas torrenciais como as de Fevereiro desse ano se tornarão mais e mais comuns. O Rio de Janeiro terá que se acostumar com várias chuvas de parar a cidade, derrubar árvores e espalhar caos por ano.
É o que podemos esperar com o aquecimento desenfreado do planeta: eventos climáticos extremos, ou seja, aqueles que causam dano. Perdas de vidas em enchentes, perdas de colheitas e aumento da fome, queimadas, inundações.
A parte mais irracional desse momento histórico é que tais eventos atingirão a todos. Atingirão aos pobres em maior grau, dado que ricos tem condições de se mudarem de regiões problemáticas. Mas atingirão a todos. O lucro auferido pela destruição do planeta, contudo, está nas mãos de poucos. Ruralistas que desmatam, acionistas de empresas petrolíferas, bilionários em geral.
É uma velha prática do capitalismo mundial: a privatização dos lucros, a socialização dos riscos. Precisamos mudar esse jogo. O mundo precisa cobrar dos seus poluidores os estragos que a sujeira deles causa e que todos teremos que arcar.