Há 106 anos, em 18 de julho de 1918, nascia o líder político sul-africano Nelson Mandela. Expoente da luta antirracista, Mandela liderou o movimento contra o regime segregacionista do apartheid na África do Sul, coordenando ações de resistência, boicote e desobediência civil.
Perseguido pelo governo da minoria branca, foi condenado à prisão perpétua, permanecendo encarcerado por 27 anos. Após sua libertação, foi aclamado como primeiro presidente negro da África do Sul, pondo fim ao regime do apartheid.
Laureado com o Prêmio Nobel da Paz, tornou-se um símbolo universal de luta por justiça social. É tratado com profundo respeito e reverência na África do Sul, onde é descrito como “Pai da Nação” e carinhosamente chamado por seu apelido: ”Madiba”.
Nelson Mandela nasceu em Mvezo, na província do Cabo Oriental, em uma família da nobreza tembu, povo da etnia xossa. Era filho do chefe zulu Nkosi Mphakanyiswa Gadla Mandela e de sua terceira esposa, Nosekeni Fanny. Chamava-se Rolihlahla Mandela, mas recebeu a denominação “Nelson” na escola primária em Qunu, onde era hábito os professores substituírem os nomes nativos por alcunhas anglófonas.
Aos nove anos de idade, após a morte do pai, foi deixado sob a tutela de seu tio, Jongintaba Dalindyebo. Após cursar o ensino básico em colégios metodistas, ingressou no Clarkebury Boarding Institute, escola preparatória exclusiva para negros, e concluiu o ensino secundário no Colégio Healdtown.
Em 1939, Mandela se matriculou no curso de direito da Universidade de Fort Hare, a primeira universidade sul-africana a ministrar cursos para estudantes negros. Durante a graduação, aderiu ao movimento estudantil e tomou parte dos protestos contra o racismo na universidade. Como represália, foi expulso da instituição.
Mudou-se então para Joanesburgo, onde trabalhou como segurança em uma mina e teve mais contato com a realidade de exclusão social e pobreza extrema a que estava submetida a maioria da população. Retomou seus estudos, bacharelando-se em artes pela Universidade da África do Sul e cursando direito na Universidade de Witwatersrand. Após concluir sua formação jurídica, fundou o primeiro escritório de advocacia administrado por negros da África do Sul — o Mandela & Tambo, que se notabilizaria pela atuação em prol da defesa dos grupos étnicos marginalizados no país.
Na década de quarenta, Mandela priorizou a militância política e ajudou a fundar a Liga da Juventude do Congresso Nacional Africano — CNA, movimento político que se dedicava a lutar pelos direitos da população negra da África do Sul.
Aproximou-se igualmente do Partido Comunista da África do Sul (PCAS), travando amizade com o dirigente Gaur Radebe e frequentando as reuniões da agremiação. Mandela logo se converteu em um dos principais líderes do CNA, passando a integrar o conselho executivo da organização e assumindo a presidência da seção regional do Transvaal.
Em 1949, o governo sul-africano estabeleceu oficialmente o regime do apartheid, institucionalizando a segregação racial com base no conceito de supremacia branca. A maioria negra foi relegada à condição de cidadãos de segunda classe, confinados a guetos, destituídos de direitos políticos e civis e sujeitos à repressão brutal do governo.
Nos anos 50, o CNA se tornou o principal núcleo de oposição ao apartheid e Mandela coordenou diversas ações de protesto contra o regime segregacionista, comandando greves, manifestações, campanhas de desobediência civil e exortando a população negra a ocupar os espaços reservados aos brancos. Sua atuação política o transformou em alvo da perseguição governamental, custando-lhe uma série de detenções.
Em 1952, Mandela foi condenado com base na Lei de Repressão ao Comunismo e sentenciado a uma pena de nove meses de trabalhos forçados. Após sua libertação, voltou a articular manifestações pacíficas e campanhas de conscientização. Em 1956, foi novamente preso, junto com outros 144 militantes contra o apartheid.
O recrudescimento da brutalidade dos aparelhos repressivos do governo sul-africano levou Mandela a questionar a estratégia da resistência não violenta adotada pelo CNA, argumentando que “os tempos da resistência passiva haviam passado”. Essa impressão foi corroborada após o Massacre de Sharpeville. Em março de 1960, manifestantes sul-africanos organizaram uma grande passeata no bairro de Sharpeville, em Joanesburgo, para protestar contra a Lei do Passe, que obrigava os negros a portarem uma caderneta registrando os lugares que estavam autorizados a frequentar
A polícia reprimiu brutalmente a manifestação, matando 69 pessoas. Em seguida, o governo sul-africano baniu o direito de manifestação, aprisionou mais de 25 mil pessoas e criminalizou os movimentos sociais, jogando o CNA na clandestinidade. O episódio convenceu a cúpula do CNA sobre a necessidade de constituir um movimento de resistência pelas armas.
Em 1961, o CNA criou seu braço armado, intitulado Umkhonto we Sizwe (“Lança da Nação”), entregue ao comando de Mandela. A organização articularia ações de enfrentamento armado, boicote e sabotagem contra o governo sul-africano. Mandela realizou um périplo pela África para estudar sobre guerrilha e buscar apoio político para o CNA. Passou dois meses em treinamento militar na Etiópia, onde conheceu o imperador Haile Selassie, e estudou estratégias de resistência com os guerrilheiros da Argélia.
Também visitou Libéria, Nigéria e Botsuana. Sua habilidade em despistar as autoridades sul-africanas lhe rendeu o epíteto de “Pimpinela Negro”, em alusão ao personagem “Pimpinela Escarlate” da Baronesa Orczy.
Em agosto de 1962, entretanto, Mandela foi preso. A captura foi viabilizada com apoio tático da CIA, alarmada pelos vínculos entre Mandela e os comunistas. Em 12 de junho de 1964, Mandela foi condenado por sabotagem e conspiração contra o governo sul-africano, recebendo a sentença de prisão perpétua.
Mandela passaria os 27 anos seguintes encarcerado — inicialmente no presídio da Ilha Robben, posteriormente nas prisões de Pollsmor e Victor Verster. Não recebeu autorização sequer para acompanhar os funerais de sua mãe e de seu primogênito Thembi, morto em um acidente de carro. Mesmo preso, Mandela seguiu participando da luta contra o apartheid, trocando correspondências com líderes políticos e religiosos como Desmond Tutu e Mangosuthu Buthelezi e com militantes do Movimento pela Consciência Negra, fundado por Steve Biko.
Um movimento internacional em prol de sua libertação começou a se consolidar no fim dos anos 70: em 1979, Mandela foi agraciado pelo governo indiano com o Prêmio Jawaharlal Nehru. No ano seguinte, popularizou-se o grito de guerra “Mandela Livre!”, mote de uma campanha que ressoou no Conselho de Segurança da ONU.
O governo sul-africano, entretanto, seguiu resistindo à pressão internacional, respaldado pela postura do presidente norte-americano Ronald Reagan e da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, que rotulavam o CNA como uma organização terrorista. A violência política seguiu aumentando após Pieter Willem Botha, primeiro-ministro da África do Sul, autorizar o exército a reprimir os militantes do CNA, deixando o país à beira de uma guerra civil.
Em 1987, o governo sul-africano condicionou a libertação de Mandela ao fim da atuação armada do CNA, ao encerramento dos vínculos entre a organização e o Partido Comunista e à renúncia da intenção de construir um governo de maioria nacional. Mandela rejeitou a proposta, afirmando que a luta armada somente seria encerrada após o governo sul-africano renunciar à violência.
Em 1989, Frederik de Klerk assumiu o governo sul-africano. Confrontado com o clima de insurgência, greves gerais, protestos e com o crescente isolamento diplomático e o boicote econômico ao país, de Klerk aceitou negociar a soltura dos presos políticos.
Em 11 de fevereiro de 1990, Mandela foi libertado, retomando imediatamente a liderança do movimento contra o regime segregacionista. Nesse mesmo ano, foi laureado como Prêmio Lenin da Paz, outorgado pela União Soviética.
Em 1991, Mandela assumiu a presidência do CNA, então já legalizado, e pressionou o governo sul-africano a adotar as reformas constitucionais.
Em 1993, foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz. No ano seguinte, nas primeiras eleições multirraciais da África do Sul, Mandela foi eleito presidente com mais de 62% dos votos. Tornou-se o primeiro mandatário negro do país, após 350 anos de domínio político da minoria branca.
Durante seu governo, Mandela promulgou uma nova Constituição para a África do Sul, encerrando oficialmente o regime do apartheid. Introduziu importantes reformas sociais, como a universalização do sistema de saúde, o projeto de reforma agrária e programas de redução da pobreza e de combate à desigualdade. Também criou uma comissão da verdade para apurar as violações de direitos humanos cometidas pelo regime segregacionista. A ausência de punição aos agentes do apartheid e a adoção de medidas que beneficiavam os interesses do mercado, entretanto, causaram insatisfação entre os aliados do CNA e setores da esquerda sul-africana.
Após deixar a presidência, Mandela fundou uma instituição de apoio aos direitos humanos, mas não voltou a disputar cargos eletivos. Faleceu em Joanesburgo, em 5 de dezembro de 2013, aos 95 anos. Ao longo de sua vida, Mandela recebeu mais de 250 honrarias e condecorações por sua luta antirracista. Em sua homenagem, a ONU instituiu o dia do seu nascimento, 18 de julho, como “Dia Internacional de Nelson Mandela”, dedicado à valorização da luta pela liberdade e justiça.