A Corte de Cassação de Roma, terceira e última instância da Justiça italiana, condenou definitivamente à prisão perpétua o ex-presidente do Peru Francisco Morales Bermúdez (1975-1980) pelo assassinato de dois militantes ítalos-argentinos ocorrido no âmbito da Operação Condor.
Além de Morales Bermúdez, a decisão condenou o coronel e ex-chefe da Polícia de Inteligência peruana Martín Felipe Martínez Garay, também pelo assassinato dos ativistas.
Na manhã desta quarta-feira (09/02), uma audiência julgava o recurso apresentado pelos réus. Morales Bermúdez, que tem 100 anos, é o único presidente ainda em vida dos países onde a Operação Condor atuou.
A Condor foi uma rede de colaboração, financiada pelos Estados Unidos, que atuou nos anos 70 e 80 entre as agências de inteligência das ditaduras sul-americanas para trocas de informações e eliminação de dissidentes políticos através de operações conjuntas.
Morales Bermúdez e Martínez Garay foram condenados pelo assassinato e desaparecimento de Lorenzo Vinas e Horacio Domingo Campiglia, em 1980. Os militantes do movimento de esquerda argentino Montoneros foram sequestrados no Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, respectivamente, com a ajuda de agentes da repressão militar brasileira e posteriormente entregues à ditadura argentina.
Na Argentina, passaram por sessões de tortura na prisão clandestina Campo de Mayo e, desde então, seguem desaparecidos.
Os peruanos são os últimos condenados do processo que tramitou pelos tribunais romanos, condenando, em julho passado, 14 repressores à prisão perpétua, sendo 11 uruguaios e três chilenos, por crimes de lesa humanidade ligados à Operação Condor.
Em um desmembramento do caso, quatro repressores brasileiros – João Osvaldo Leivas Job, Carlos Alberto Ponzi, Marco Aurélio da Silva e Átila Rohrsetzer – também foram processados, mas o caso foi extinto por conta da morte dos militares durante o andamento do julgamento.
Wikimedia Commons
Ex-presidente do Peru Francisco Morales Bermúdez foi condenado à prisão perpétua pelo assassinato de dois militantes ítalos-argentinos
Leia mais
Processo Condor: Pesquisadores e juristas debatem condenação de torturadores
Em depoimento na Itália, testemunhas de torturas na ditadura argentina relembram terror
Operação Condor: Viúva depõe em Roma sobre desaparecimento do marido no Brasil em 1980
Justiça da Argentina vai investigar crime da ditadura brasileira
Átila foi o último deles, morreu dois meses antes da promulgação da sentença. A Corte extinguiu o caso, mas declarou que “não existiam elementos para absolvê-lo no mérito”.
Agora, a Justiça da Itália deve pedir a extradição dos peruanos. Em agosto passado, a diplomacia italiana começou a solicitar os primeiros pedidos. “Este é um capítulo importante em busca da verdade sobre o pacto criminoso entre os regimes da América Latina e da justiça, com respeito aos crimes cometidos contra opositores, dissidentes políticos e militantes sindicais na década de 1970 que não podem ser esquecidos. Terrorismo de Estado, nunca mais”, declarou Arturo Salerni, representante de famílias das vítimas, que está viajando pela Argentina e Uruguai com uma comitiva de advogados que participaram ao processo.
Todas as investigações sobre a Operação Condor na Itália duraram cerca de 15 anos e tiveram início após denúncias apresentadas pelos familiares dos italianos desaparecidos na América do Sul. Opera Mundi foi o único veículo de comunicação brasileiro a acompanhar o julgamento.