“Mais do mesmo” e “lhe falta seguir escutando” foram alguns comentários que se escutaram na oposição após analisar em detalhe a entrevista que o presidente Sebastián Piñera concedeu à emissora britânica BBC nesta terça-feira (05/11), a primeira que o mandatário deu a um veículo de imprensa desde que começou a crise social em outubro.
Dentro dos partidos opositores as falas do presidente sobre a nova Constituição e as violações dos direitos humanos foram questionadas, e as legendas lamentaram que o mandatário se apoie na agenda social, que está longe de satisfazer as demandas mais estruturais que a sociedade exige.
“Não me surpreende essa impressão de que o presidente da República não sinta a profundidade da crise que estamos vivendo no país, a profundidade e a massividade das manifestações que exigem mais justiça, mais igualdade e o fim dos abusos”, disse o presidente do Partido Pela Democracia (PPD), Heraldo Muñoz.
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Para a senadora Ximena Rincón, do Partido Democrata Cristão (PDC), “novamente falta ao presidente seguir escutando”, sobretudo em uma conjuntura onde “temos o mundo todo olhando para o Chile” e que “a governança está falhando”.
A parlamentar também questionou a defesa do presidente da chamada agenda social, assinalando que sua tarefa agora é “mandar leis para a discussão parlamentar que respondam às demandas cidadãs, porque o que está sendo feito não basta”.
CUT Chile
‘Ele não esteve nos lugares onde ocorreram violações de direitos humanos, mas ele deu ordens pelas quais deve responder’, diz deputado
Violações de direitos humanos
Sobre os abusos policiais e militares a oposição também criticaram as declarações de Piñera, que afirmou que “nossas forças policiais estão totalmente comprometidas com o respeito aos direitos humanos e totalmente comprometidas com o uso racional e proporcional das forças”.
Para a deputada do Partido Comunista do Chile (PCC) Karol Cariola, é “muito grave que o presidente atribua as violações de direitos humanos apenas a funcionários individuais. [Piñera] não se coloca como presidente da República e, portanto, como responsável pelas instituições do Estado. Ele abandona a responsabilidade do cargo e lava suas mãos”.
Por sua vez, o chefe da bancada de deputados do PPD, Rocardo Celis, Piñera tenta “minimizar as graves violações de direitos humanos que vimos no Chile e deixam no campo da especulação um fato que foi absolutamente validade pelo INDH [Instituto Nacional de Direitos Humanos] e órgãos internacionais”.
Celis também destacou uma frase curiosa do mandatário durante a entrevista, quando este disse que “eu estive lá”, se referindo às manifestações. “Isso é ofender um pouco a inteligência dos chilenos […], ele não esteve nos lugares onde ocorreram as violações de direitos humanos, mas ele deu ordens, ordens pelas quais deve responder”, disse o deputado.
Nova Constituição
Outro tema que Piñera deixou em suspenso foi o da nova Constituição e, apesar de reiterar que não deixa fechada a discussão, deixou claro sua distância da Assembleia Constituinte ao dizer que “existem algumas pessoas que não se importam com o panorama, a única coisa que querem é o método”.
Para o presidente do PPD, Heraldo Munõz, Piñera não entendeu a mensagem das ruas. “[O presidente] dá a impressão que tudo se resolverá com este pacote de medidas sociais absolutamente insuficiente e parece não se dar conta que estas mobilizações estão pedindo uma mudança nas regras do jogo, um novo pacto social, uma nova Constituição”, disse.
Por sua vez, o deputado Celis afirmou que “o presidente está perdendo tempo e a oportunidade ao seguir evitando um pronunciamento mais claro sobre uma nova Constituição. [Piñera] tem que dar uma resposta categórica aos chilenos. A violência vem aumentando pela incapacidade do presidente e do governo de dar respostas claras à sociedade […]. As pessoas se mobilizam nas ruas e o governo age como se nada estivesse acontecendo”.