Quinta-feira, 15 de maio de 2025
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O candidato da esquerda Pedro Castillo venceu na tarde desta terça-feira (15/06) o segundo turno das eleições presidenciais do Peru, superando a direitista Keiko Fujimori, do Força Popular.  

Com 100% das atas contabilizadas e uma apuração que levou quase duas semanas, o candidato do Peru Livre obteve 50,125% dos votos válidos, contra 49,875% de Keiko. No final da semana passada, a totalidade das atas (o equivalente a boletins de urna) já havia sido processada, mas não haviam sido, ainda, contabilizados todos os votos que continham nelas – o que aconteceu agora.

Após o fechamento das atas contabilizadas, Castillo, pelo Twitter, agradeceu ao povo peruano pela “confiança” e disse que seu governo será “devido a todos os cidadãos”.

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“Um novo tempo começou. Milhões de peruanos (as) se levantaram em defesa de sua dignidade e justiça. Agradeço aos povos de todo o Peru que, por sua diversidade e força histórica, confiaram em mim. Meu governo será devido a todos os cidadãos”, afirmou. 

A candidata do Força Popular tenta, desde o final da semana passada, reverter o resultado. Ela alega, sem apresentar provas, que houve fraude nas eleições e tenta anular pelo menos 200 mil votos – a maioria no sul, região onde Castillo foi vitorioso.

A vitória de Castillo representa a chegada das forças progressistas ao poder peruano e o fim de um impasse político no país, que teve quatro chefes de Estado nos últimos três anos. O presidente eleito assume o cargo no dia 28 de julho.

Veja o resultado final das eleições no Peru:

Na última terça-feira (08/06), Castillo já havia se declarado vencedor das eleições presidenciais do Peru com base na porcentagem de apuração e nas contagens paralelas realizadas pelo Peru Livre. Ao seus apoiadores, o sindicalista de 51 anos declarou que o “povo falou” e pediu que os eleitores não “caiam em provocações”.

Desde domingo (06/06), a apuração caminhou a passos lentos, principalmente por conta das atas do exterior – que precisaram, em alguns casos, vir ao Peru por via aérea. Castillo começou a contagem de votos cerca de seis pontos percentuais atrás da filha do ex-ditador Alberto Fujimori, ainda na madrugada de segunda-feira (07/06), domingo à noite no Peru. A virada aconteceu somente com 92,62% das atas contabilizadas. 

Apuração ao longo do tempo

Ao longo do processo de apuração, os votos que ainda faltavam ser apurados eram de regiões onde Castillo era mais forte – caso de Cusco, por exemplo, onde o candidato do Peru Livre angariou votos na proporção de 8 para 2. Às 12h44 desta quarta-feira, a região havia alcançado pouco mais de 95% das urnas apuradas.

Candidato do Peru Livre, de esquerda, superou a ultradireitista Keiko Fujimori, que insiste em denúncias (sem provas) de que houve fraude no pleito

Reprodução

Com 98,34% das urnas apuradas, Castillo obteve 50,21% dos votos válidos, contra 49,79% de Keiko Fujimori

Por sua vez, as áreas onde Keiko conquistava maior popularidade já estavam com a apuração muito avançada. Lima, por exemplo, onde a candidata de extrema direita possui uma ampla base de eleitores, está com 100% das atas processadas e 97,96% contabilizadas.

Existe uma diferença entre atas processadas e atas contabilizadas. As processadas são as recebidas pelo órgão eleitoral e checadas quanto à validade; as contabilizadas são aquelas que, efetivamente, entram na contagem dos votos.

A esperança da direitista para uma nova virada eram os votos do exterior, que vinham em grande proporção a favor da candidata. Mesmo assim, à medida em que a apuração avançou, essa proporção, que chegava a ser de 80 votos para Keiko e 20 para Castillo a cada 100, caiu durante a apuração para 66 contra 34. 

Sem provas, Keiko chegou a falar em fraudes e irregularidades eleitorais durante o segundo turno, declaração que foi rejeitada pelo Júri Eleitoral Nacional (JNE) do Peru e comissões de observadores internacionais que acompanharam o pleito. A Missão de Observação da União Interamericana de Organizações Eleitorais (Uniore) indicou que as eleições foram bem-sucedidas e reconheceu todo o processo eleitoral.

Pedro Castillo

Professor e sindicalista peruano, Castillo ganhou reconhecimento nacional em 2017, quando encabeçou uma greve de profissionais da educação do país. Ainda jovem, o presidente eleito fazia parte de rondas campesinas, organizações que combatiam crimes que ocorriam nas zonas rurais do Peru, o que, ainda hoje, representa em suas caminhadas ao usar chapéu característico aos integrantes destes grupos.  

Após o primeiro turno, no qual Castillo saiu como vitorioso com 18,92%, o esquerdista caminhou na liderança de diversas pesquisas de intenção de votos. A primeira delas chegou a dar 20 pontos de vantagem de Castillo sobre Keiko.

Eleito pelo partido Peru Livre, uma sigla que se define como “marxista-leninista-mariateguista”, a organização defende reformas “totais” em relação à política fiscal e tributária peruana e propõe a “nacionalização dos recursos estratégicos” da nação. 

Em sua campanha eleitoral, o então candidato falou em participação popular e na convocação de uma Constituinte no Peru. Castillo defende que a atual Constituição prioriza o interesse privado sobre o interesse público, o lucro sobre a vida e a dignidade. Para ele, a ideia é permitir que os peruanos decidam “democraticamente” se querem ou não uma nova Carta Magna.