Quarta-feira, 14 de maio de 2025
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A Grande Revolução Cultural Proletária, ou simplesmente a Revolução Cultural, que teve início em 18 de agosto de 1966 e se encerrou com a morte de Mao Tse Tung em 1976,  representa um dos acontecimentos marcantes da história chinesa contemporânea, com considerável repercussão internacional. 

Em 1966, Mao decide lançar a Revolução Cultural a fim de consolidar seu poder apoiando-se na população jovem. Desejava expurgar o Partido Comunista de seus elementos “revisionistas” e limitar o poder da burocracia. Os “guardas vermelhos”, grupo de jovens inspirados pelos princípios do Pequeno Livro Vermelho tornaram-se o braço ativo dessa revolução e puseram em causa a direção do Partido. 

Os intelectuais, assim como os quadros partidários, foram publicamente humilhados. Os tradicionais valores chineses e alguns valores ocidentais foram denunciados em nome da luta contra as “quatro velharias”. Milhares de esculturas e templos budistas foram destruídos. Os “guardas vermelhos” se expressam politicamente pelos “dazibao”, cartazes afixados nos muros. O caos se estabeleceu antes que a situação fosse empalmada por Chu en Lai. A agitação permitiu a Mao retomar o controle do Estado e do Partido, todavia, foi um alto preço, pois a Revolução Cultural foi responsável pela morte de milhares de pessoas.

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O Grande Salto de 1958 custou o posto de presidente da China de Mao, e foi uma das consequências da política econômica adotada. O Congresso Nacional Popular elegeu então Liu Shao Shi como seu sucessor. Ainda que se mantivesse oficialmente no comando do Partido, Mao foi sendo paulatinamente afastado da gestão econômica, que passou a ser confiada a uma elite mais moderada, dirigida essencialmente por Deng Xiao Ping, Liu Shao Shi e alguns outros. 

Após o fracasso do Grande Salto, Liu Shao Shi decide em 1960, adotar um programa mais moderado e realista para a recuperação econômica. O acadêmico Yang Jisheng informou que Liu, tomando consciência das consequências da Grande Fome, disse a Mao: Com tantos mortos de fome, a História nos acusará inclusive do canibalismo”. A maioria dos quadros do Partido recusam-se a apoiar Mao em sua tentativa de relançar o processo revolucionário por meio do Movimento de Educação Socialista entre 1962 e 1965. Esta oposição levou Mao a desencadear a Revolução Cultural. 

Mao e Liu se posicionam em aberto confronto. Liu é acusado de “seguir a via capitalista” e perde posição na hierarquia do Partido em agosto de 1966. Em outubro teve de fazer sua autocrítica. Em 1967 é expulso do Partido. Em outubro de 1968 é deposto da presidência. Morre na prisão em 1969. 

O pretexto para o desencadeamento da Revolução Cultural foi uma peça de teatro encenada em 1961: A Destituição de Hai Rui de Wu Han, historiador e vice-prefeito de Pequim. Uma crítica de Yao Wenyuan, publicada em novembro de 1965 no diário Wenhuibao acusa a peça de fazer um ataque dissimulado a Mao. Críticas surgem acusando vários intelectuais conhecidos. 

Em maio de 1966 é constituído um “Grupo de Revolução Cultural do Comitê Central”. São denunciados todos os “revisionistas presentes na cultura, na política e no exército. Em 29 de maio de 1966, a primeira organização de guardas vermelhos surge no seio da Universidade Tsinghua. Eram jovens, a maior parte colegiais, cujo objetivo era aplicar a revolução cultural, se necessário à força, atacando os intelectuais e os inimigos políticos de Mao. Os critérios de recrutamento podiam ser a boa conduta política ou origem social de “Cinco Espécies Vermelhas”: filho de camponês pobre, de operários, de mártires, de soldados e de quadros revolucionários. As hostes dos guardas vermelhos foram depois engrossadas pelos excluídos do Partido, pelos trabalhadores precários e oportunistas de hábito.

Movimento pretendia remover os elementos 'revisionistas' do Partido Vermelho e limitar o poder da burocracia

pingnews/Flickr

Revolução Cultural teve início em 18 de agosto de 1966 e se encerrou com a morte de Mao Tse Tung, em 1976

Em 8 de agosto de 1966, o Comitê Central emite um projeto de lei relativo às “decisões sobre a grande revolução cultural proletária” segundo o qual o governo se declara a favor de um expurgo no seio do partido e entre os intelectuais. 

“A grande revolução cultural proletária visa liquidar a ideologia burguesa, a implantar a ideologia proletária, a transformar o homem no que tem de mais profundo, a extirpar as raízes do revisionismo, a consolidar e desenvolver o sistema socialista. Devemos abater os responsáveis do Partido engajados na via capitalista, abater as sumidades acadêmicas reacionárias da burguesia. Devemos extirpar energicamente o pensamento, a cultura, os modos e os costumes antigos de todas as classes exploradoras”. 

Em 18 de agosto de 1966, na praça Tian’anmen, Pequim, Mao e Lin Piao são aclamados por cerca de um milhão de guardas vermelhos vindos de todo o país. O movimento se espalha pelo país. Durante 3 anos, até 1969, os guardas vermelhos estenderam sua influência e aceleraram os esforços em vista da “reconstrução socialista”. Instalou-se progressivamente um clima de terror, invadiu-se ao acaso milhares de residências para encontrar “provas” comprometedoras de “desvios”. Diversos templos budistas foram destruídos ou danificados. Nas regiões muçulmanas do oeste, livros do Corão foram queimados em grandes autos-da-fé. Rasgar um cartaz de Mao era considerado sacrilégio. Pessoas suspeitas eram obrigadas a fazer autocrítica em público, “julgadas” e posteriormente enviadas aos campos de trabalho forçado. 

Professores, artistas e intelectuais eram enviados ao campo para serem “reeducados” pelo trabalho manual. 

A Revolução Cultural fez o país deslizar no caos e na guerra civil quando Mao apela aos operários a tomar parte ativa nos acontecimentos. Em 28 de janeiro de 1967, confere ao exército a obrigação de proteger as fábricas e de socorrer os “verdadeiros revolucionários”.

Durante o inverno 1966-1967, Shangai conhece revoltas políticas e sociais. Trabalhadores das fábricas unem-se ao movimento de resistência e logo recebem o apoio de uma parte dos quadros do Partido e do exército e tomam o poder na cidade. 

Mao indica em setembro de 1967 que “nada de essencial divide a classe operária”. O exército intervém contra os rebeldes e os estudantes retornam às aulas no final de 1967. 

Após a “contra-corrente do inverno 1966-1967”, Mao dá novamente seu apoio no começo de 1968 aos grupos revolucionários. A fim de evitar o esmagamento dos guardas vermelhos, milhares de operários são enviados à Universidade de Pequim para restabelecer a autoridade. 

Durante o inverno 1968-1969, diante da resistência generalizada, os guardas vermelhos desaparecem. Seus líderes mais radicais são executados publicamente em abril de 1968. O 9º Congresso do Partido Comunista da China, reunido em 24 de abril de 1969, ratifica os expurgos e a reorganização do Partido.


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