Mario Fortino Alfonso Moreno Reyes, ator e comediante mexicano, mundialmente conhecido como Cantinflas, morre de câncer de pulmão na Cidade do México, em 20 de abril de 1993, aos 81 anos. Dezenas de milhares de pessoas se reuniram num dia chuvoso para o seu funeral que durou 3 dias.
Era enorme a popularidade do personagem Cantinflas, saído dos bairros pobres e que se associou com boa parte da identidade nacional do México, sobretudo das classes populares o que permitiu a Mario Moreno viver uma longa e bem-sucedida carreira cinematográfica.
De origem humilde, se juntou a uma ‘troupe’ de cômicos ambulantes e percorreu todo o México. No final dos anos 1920 passou a atuar nas periferias da Cidade do México, criando o tipo que o faria famoso. Em 1930 já era o cômico mais famoso do país. Em 1934 conheceu a atriz Valentina Subarev com quem teve seu único filho, Mario Arturo.
Em 1936, com a ampla bagagem acumulada no circo, representando papeis em pequenas montagens teatrais, estreou no filme Não Te Enganes, Coração, ao qual se seguiram Na Minha Terra É Assim e Águila, o Sol (1937), O Signo da Morte (1939).
Consagrou-se definitivamente como ídolo indiscutível somente em 1940 com o filme Aí Está o Detalhe, em cuja última cena e por meio de delirante discurso passa pelas convenções sociais e muda o veredicto do juiz. Esta película lhe possibilitou fundar a companhia Posa Filmes, produtora de Siempre listo en las tinieblas e Jengibre contra dinamita, fracassadas tentativas de penetrar no mercado hollywoodiano. Não obstante, com seus quase 50 filmes, bateu recordes de arrecadação nas 3 décadas que se seguiram.
A popularidade deste monstro sagrado do cinema mexicano deve muito ao seu trabalho nas películas Nem Sangue Nem Areia e O Gendarme (1941), nas quais descobriu seu diretor ideal, Miguel Delgado. Com ambas as obras, Moreno esperava amortizar os recursos investidos na Posa Films. Teve êxito: Nem Sangue Nem Areia arrecadou 54 mil pesos em 4 dias. O sucesso extraordinário prosseguiu com O Gendarme, considerado um de seus melhores filmes. Nele, ridiculariza a polícia, detestada em geral pela população.
Em 1944 filiou-se ao Sindicato de Trabalhadores da Indústria Cinematográfica. Sua contribuição foi decisiva na melhoria das condições contratuais do pessoal dos estúdios. Encabeçou uma greve, secundado pelos atores Jorge Negrete e , com quem manteve forte polêmica pela direção da Associação Nacional de Atores.
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De origem humilde, se juntou a uma ‘troupe’ de cômicos ambulantes e percorreu todo o México
Nos anos 1950, suas fitas mostram uma guinada: do personagem pitoresco, urbano e popular só restaria um humor baseado no uso reiterado do “cantinflismo“, a habilidade de falar muito e não dizer nada. Em todas elas, Cantinflas se converteu num crítico da sociedade local e da humanidade em geral. Arremetia com singular desassombro contra a “aristocracia desnaturalizada”, fazendo com que triunfasse o autêntico sobre o falso. Era o homem que sempre dizia a verdade, sem bem que de forma sarcástica.
Excepcionalmente, participou da superprodução norte-americana A Volta ao Mundo em Oitenta Dias (1957). Decidido a não mais participar de rodagens fora de seu país, abriu uma única exceção para o espanhol Dom Quixote Cavalga de Novo, dirigido por Manuel Delgado, com quem havia trabalhado em filmes como O Bolero de Raquel (1956) e O Padre (1965), seu primeiro filme em cores.
Em seus papéis sempre denunciou as desigualdades sociais e a falta de solidariedade. A última etapa de sua vida, depois de enviuvar em 1966, esteve marcada por participação em ações sociais e políticas, chegando inclusive a pronunciar um discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas.
Cantinflas será sempre lembrado por fazer triunfar um tipo maroto de bom coração que apresenta certo paralelismo com o personagem Carlitos de Charles Chaplin. Cantinflas herdou de Carlitos o coração e a alma. Só que o pobre Cantinflas, tão pobre quanto Carlitos, se permitia o luxo de se compadecer dos ricaços. Sua característica central era a disparatada e inesgotável verborragia, que o converteu em outro gênio da comédia.
O personagem baseava sua comicidade em reações ingênuas, em sua assombrosa naturalidade e em seus personalíssimos e desvairados monólogos, contínuos, confusos, inesgotáveis, autêntico fluxo do mais delirante verbalismo que começava com inusitada fluidez e termina em balbucios e balbúrdia vocabular ininteligível, ao mesmo tempo em que movia incansavelmente sua mão esquerda para acompanhar a insólita proliferação de caretas.
Sua atuação era sobretudo fruto da soltura e agilidade, as situações mais disparatadas brotavam com maravilhosa simplicidade. Os filmes nada tinham de extraordinário, porém seu personagem, sua figura, seu personalíssimo estilo interpretativo e seu singular sentido do humor ocupam um lugar relevante no firmamento da sétima arte.
As calças enormes a ponto de cair, dois chumaços ralos à guisa de bigodes, lenço no pescoço, aspecto desleixado se converteram no padrão hispânico de uma classe de humor, marcado pelo absurdo, e que lhe permitiu alcançar enorme popularidade nos países de fala espanhola, se bem que punha travas, simultaneamente à possibilidade de atravessar fronteiras idiomáticas, visto que Cantinflas devia boa parte de seu êxito à libérrima utilização do idioma, uma característica que fazia muito difícil a penetração de seu humor em âmbitos distintos aos da língua espanhola.
Também nesta data:
1602 – É inaugurada a Companhia das Índias Orientais
1727 – Morre o matemático inglês Isaac Newton
1933 – É criado o primeiro campo de concentração na Alemanha
1953 – Kruchev é escolhido para o Secretariado do Partido Comunista
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.