O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos em Genebra declarou nesta sexta-feira (09/02) que janeiro foi um dos meses mais violentos registrado no Haiti nos últimos anos.
Pelo menos 806 pessoas foram mortas, feridas ou raptadas em janeiro de 2024, e cerca de 300 membros de grupos armados também foram mortos ou feridos, chegando a um total de 1.108 pessoas.
Com os protestos, a violência agudizou e entre os dias 20 de janeiro de 7 de fevereiro. Pelo menos 16 pessoas foram mortas e 29 ficaram feridas, em razão dos confrontos entre manifestantes e a polícia, informou a ONU.
“A situação dos direitos humanos, que já era desastrosa, deteriorou-se ainda mais num contexto de violência incessante e crescente dos grupos armados, com consequências terríveis para os haitianos”, lamentou o alto comissário Volker Turk.
Mais 313 mil pessoas foram forçadas a fugir de suas casas.
O Haiti está mergulhado em protestos, com milhares de pessoas na capital e no resto do país exigindo a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry.
Além disso, devido à crise instaurada, a situação afeta a economia e provoca também insegurança alimentar. “A inflação alta causada pela extorsão e pelos bloqueios de estradas privou milhões de haitianos de bens de primeira necessidade”, alertou o alto comissário.
Apesar da repressão que causou mortes, dezenas de milhares de pessoas marcharam em várias cidades para exigir a renúncia de Henry.
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Manifestação massiva tomam as ruas do Haiti e ONU alerta sobre agravamento de violência
Impressões digitais da crise atual
O assassinato do presidente Jovenel Moise em 2021 mergulhou o país ainda mais no caos. Nenhuma eleição ocorreu desde 2016 e a Presidência permanece vaga.
A nação mais pobre do hemisfério ocidental está em crise há anos, com gangues armadas tomando conta de partes do Haiti e desencadeando violência, deixando a economia e o sistema de saúde pública em frangalhos.
Após o assassinato de Moïse, eclodiu uma disputa entre o primeiro-ministro interino Claude Joseph, presidente do Senado Joseph Lambert, e o atual primeiro-ministro, Ariel Henry, sobre quem deveria chefiar o governo.
Desde que assumiu o poder, Henry adiou a eleição, exerceu repressão e, de um modo geral, agarrou-se ao poder sem um mandato constitucional, legitimidade popular ou um Parlamento completo, tendo os mandatos dos seus últimos representantes eleitos expirado em 2023.
Surgiram até evidências de que o próprio Henry estava envolvido no assassinato de Moïse. Embora Henry tenha solicitado a intervenção estrangeira para lidar com os gangues, os seus apelos também foram desencadeados por uma onda de agitação popular contra esse pedido de intervenção.
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos ignoraram propostas alternativas lideradas pelos haitianos para resolver a crise política, o que acabou por permitir que Henry permanecesse no poder e prolongou o estado de ilegalidade do Haiti, o que por sua vez deu às gangues mais tempo e condições ideais para estabelecer controle sobre o país.
Mais de 650 organizações haitianas – incluindo os seus principais partidos políticos, sindicatos, grupos de direitos humanos e ativistas, igrejas e até empresas – apoiaram o Acordo de Montana de agosto de 2021, que estabeleceu o cronograma e a estrutura para um acordo de dois anos de transição democrática ao longo de um ano; uma saída, por outras palavras, para o impasse atual.
O governo dos EUA simplesmente ignorou, optando, em vez disso, por oferecer apoio inquestionável a Henry.