A fria noite que se sentiu neste sábado (09/09) na comuna de Las Condes, região nobre de Santiago, capital do Chile, foi aquecida pela confraternização de brasileiros e brasileiras que participam da Caravana Viva Chile, que presenciará os eventos relativos aos 50 anos do golpe de Estado com o qual as Forças Armadas derrubaram o governo socialista de Salvador Allende.
O restaurante Vacas Gordas foi o cenário de um jantar que reuniu grande parte da delegação de 143 pessoas que viajaram ao país andino, a maior parte delas ex-exilados que viveram o dia 11 de setembro de 1973 e retornaram ao país meio século depois, algumas delas pela primeira vez após aqueles trágicos acontecimentos.
A quantidade de aderentes à Caravana foi uma surpresa para comitê organizador, que esperava reunir entre 30 e 40 pessoas quando iniciaram as primeiras conversas, no primeiro semestre deste ano.
Segundo a produtora cultural Monica Rabelo, que faz parte do comitê organizador, o resultado superou amplamente as expectativas. “Mobilizar mais de 140 pessoas com financiamento próprio, cada um viajando com seus próprios recursos, sem receber dinheiro de nenhuma entidade, eu acho é uma façanha”, afirmou.
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“Cada um tem seus motivos pessoais para estar aqui revivendo aquele momento, e acho que isso foi um dos fatores pelo qual conseguimos unir tantas pessoas. Além, claro, da possibilidade de rever amigos, recuperar um pouco da união que havia na comunidade brasileira no Chile na época do Allende”, completa Rabelo, que tinha apenas 16 anos quando o exército chileno bombardeou o Palácio de La Moneda, na mesma cidade onde ela vivia na época.
Victor Farinelli
Comitê organizador da Caravana Viva Chile, durante o jantar de confraternização no restaurante Vacas Gordas
O sociólogo Ricardo de Azevedo, outro membro do comitê organizador, acrescentou que o manifesto Viva Chile, que faz parte da iniciativa, teve 460 assinaturas, o que poderia ter levado a uma caravana ainda maior.
“Muitas pessoas que queriam estar aqui em Santiago hoje não puderam vir por questões de saúde, ou de dinheiro, ou outras. Temos a responsabilidade de representá-las aqui também”, frisou Azevedo.
Durante o jantar, foram recordados os cerca de 230 brasileiros que morreram nos campos de concentração da ditadura chilena. Um dos eventos deste domingo (10/09) será, justamente, uma visita ao Mausoléu dos Desaparecidos, no Cemitério Geral de Santiago, monumento dedicado às vítimas do regime de Augusto Pinochet (1973-1990).
Outros eventos importantes da caravana serão a visita ao Estádio Nacional, transformado em campo de concentração nos primeiros dias da ditadura chilena – e no qual muitos brasileiros estiveram presos, incluindo alguns dos participantes da caravana – e a inauguração de uma placa em homenagem aos brasileiros que viveram o golpe no Chile, ato que deverá contar com a presença dos ministros Flávio Dino (Justiça) e Sílvio Almeida (Direitos Humanos), além da prefeita de Santiago, Irací Hassler, e do embaixador do Brasil no Chile, Paulo Roberto Soares Pacheco.
Ricardo de Azevedo também ressaltou a disposição das autoridades diplomáticas brasileiras em apoiar a Caravana Viva Chile. “A Embaixada tem dado um suporte importante, acho importante destacar isso porque eles entenderam a dimensão da nossa proposta e têm atendido às nossas necessidades da melhor forma”, comentou.