Esta reportagem faz parte da série especial de Opera Mundi com relatos de brasileiros que viveram o fim do governo Salvador Allende e início da ditadura Augusto Pinochet, episódio que completou 50 anos em 11 de setembro de 2023.
O frio seco da manhã desta terça-feira (12/09), em Santiago, não impediu a presença de cerca de 200 pessoas na Praça Brasil, no Centro da capital do Chile, para a cerimônia que inaugurou uma placa em homenagem aos seis brasileiros falecidos durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
A iniciativa partiu da organização da Caravana Viva Chile, que produziu duas placas, uma em português e outra em espanhol, para recordar os nomes de Jane Vanini, Luiz Carlos de Almeida, Nelson de Souza Khol, Nilton Rosa da Silva, Túlio Quintiliano Cardoso e Wânio José de Mattos.
A cerimônia foi preparada pela equipe da prefeitura de Santiago e encabeçada pela própria prefeita Irací Hassler, que dividiu seu discurso em duas partes, uma falada em espanhol e a outra em português. A líder chilena, membro do Partido Comunista, é filha de uma imigrante brasileira.
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“O ato de hoje é importante para fortalecer essa unidade entre o Brasil e Chile, países que tem uma história em comum com muitas coisas bonitas, mas que também com episódios dolorosos. Precisamos reconhecer e não esquecer, pois com isso podemos gerar garantias de não repetição”, disse Hassler, em um perfeito português.
A placa em espanhol aos brasileiros vítimas do regime está instalada em um dos jardins da Praça Brasil / Victor Farinelli
A prefeita também destacou que “este evento engrandece ainda mais uma semana marcada por atos que vem marcando essa rememoração dos 50 anos do golpe, e que começou na noite de domingo (10/09), quando as mulheres chilenas fizeram um ato maravilhoso para dizer nunca mais à violência política em nosso país”.
Ministros de Lula
Os ministros Flávio Dino (Justiça) e Sílvio Almeida (Direitos Humanos) estivaram presentes na cerimônia, completando uma agenda na qual representaram o Brasil e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em diferentes eventos relativos aos 50 anos do golpe no Chile.
Em entrevista a Opera Mundi, Dino relatou parte da sua visita nesta segunda-feira (11/09) ao Palácio de La Moneda, que incluiu uma reunião entre ele e o ministro Sílvio Almeida com o presidente chileno Gabriel Boric.
Victor Farinelli / Opera Mundi
Placa homenageia brasileiros vítimas da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990)
“Manifestamos ao presidente Boric o orgulho que temos pelo fato da delegação brasileira durante este evento ser uma das mais numerosas, não só do governo, representado por mim e pelo ministro Sílvio, mas principalmente por um grupo grande de compatriotas que compõem a Caravana Viva Chile, que vieram para cá espontaneamente, com seus próprios recursos, e têm participado ativamente em diversas atividades. E o presidente se mostrou muito agradecido e acredito que foi um momento muito importante”, comentou Dino.
Por sua parte, o ministro Almeida enfatizou a iniciativa da criação de um “museu da memória”, similar aos centros que existem no Chile e que será liderada pelo seu Ministério dos Direitos Humanos.
“Esse é um projeto que já existe há algum tempo, mas que precisa envolver diferentes pastas. O ministro Dino já colocou o Ministério da Justiça à disposição, esperamos contar também com o Ministério da Cultura, que é quem tem a expertise para cuidar dos museus, mas antes precisamos nos reunir com o presidente Lula para conversar sobre isso, pois é ele que vai organizar esse trabalho em conjunto entre as diferentes pastas”, explicou o ministro Almeida a Opera Mundi.
Em seguida, Dino e Almeida acompanharam a prefeita Hassler e os representantes da Caravana Viva Chile na inauguração das duas placas em homenagens aos brasileiros vítimas da ditadura chilena.
Jane Vanini, Luiz Carlos de Almeida, Nelson de Souza Khol, Nilton Rosa da Silva, Túlio Quintiliano Cardoso e Wânio José de Mattos foram homenageados / Victor Farinelli
A placa em espanhol já estava devidamente instalada em um dos jardins da Praça Brasil, escolhida especialmente, não só pelo nome, mas por sua localização em uma região onde viveram muitos brasileiros imigrantes, especialmente durante os anos 60 e início dos 70, coincidindo com o período de governo do presidente Salvador Allende (1973-1990).
A placa em português ficou exposta em um cavalete durante a cerimônia, mas será instalada, nos próximos dias, no edifício da Embaixada do Brasil em Santiago, como confirmou o embaixador Paulo Roberto Soares Pacheco, que também esteve presente no evento.
