Rua Castro, São Francisco, anos 1970. Uma nova cultura urbana se estabelece, e nasce uma nova forma de ativismo político na costa leste dos Estados Unidos: o da defesa dos direitos à livre expressão da sexualidade humana.
A rua Castro simboliza até hoje as causas nascidas desse momento do movimento gay, hoje reunidas em siglas como LGBTQI+. Essa referência geográfica da luta contra leis e atitudes policiais persecutórias foi construída por muitas lideranças, mas uma se destaca nessa história: Harvey Milk (1930-1978).
Nascido em Nova York e radicado na Califórnia, Milk desenvolveu uma militância em que a defesa de pequenos negócios, como a sua loja Castro Camera, uma loja de materiais fotográficos, misturou-se com a defesa intransigente dos direitos da comunidade homossexual.
Milk defendia que a luta pela igualdade passava não só pelo direito de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais poderem assumir livremente sua posição, mas também pela necessidade de que os integrantes da comunidade se assumissem publicamente, como forma de fortalecer a luta por direitos civis.
Em 1977, Harvey Milk foi eleito supervisor em São Francisco, cargo equivalente ao de vereador. Foi o primeiro político assumidamente gay a assumir um mandato eletivo nos Estados Unidos. Onze meses depois, após Milk ter sido responsável pela aprovação de uma lei municipal que garantia diversos direitos à comunidade gay de São Francisco, um outro supervisor, que renunciara ao cargo, mas que havia se arrependido da decisão, invadiu a prefeitura de São Francisco, matando o então prefeito George Moscone e, posteriormente, Milk.
Sua morte precoce não foi capaz, no entanto, de impedir a continuidade da luta que até então construíra e que marcaria, profundamente, a esquerda mundial.
Com a publicação da carta de Harvey Milk, o baralho Super-Revolucionários ganha mais uma carta. Já foram publicados cards de Carlos Lamarca, Soong Ching-ling, Inês Etienne Romeu, Walter Benjamin, Emma Goldman, Florestan Fernandes, Pagu, Hugo Chávez, Rosa Parks, Vladimir Lênin, Clara Zetkin, Ernesto Che Guevara, Antonio Gramsci, Fidel Castro, Liudmila Pavlichenko, Luís Carlos Prestes, Frida Kahlo, Alexandra Kollontai, Bela Kun, Nelson Mandela, Mao Zedong, Simone de Beauvoir, Stálin, Marina Ginestà, Ho Chi Minh, Leon Trotsky, Olga Benario, Karl Marx, Salvador Allende, Tina Modotti, Carlos Marighella, Rosa Luxemburgo e Franz Fanon.
Concebido por Haroldo Ceravolo Sereza, o baralho Super-Revolucionários tem desenho de Fernando Carvall. Essas cartas, numa análise séria, mas sem perder o humor jamais, atribuem “notas” à atuação desses grandes nomes da luta por um mundo mais justo e solidário.
Em breve, um jogo inspirado no antigo Super-Trunfo será lançado junto com um livro com essas breves biografias, uma forma de homenagear e apresentar esses homens e mulheres que mudaram o mundo.
As avaliações são provisórias e estão sujeitas a modificação.
REBELDIA 9
Falar em homossexualidade e desejo era um ato revolucionário nos anos 1970 – mesmo entre partidos e pautas de esquerda, que não viam a pauta com bons olhos e davam prioridade às pautas econômicas.
DISCIPLINA 7
Harvey Milk precisou enfrentar a máquina do partido Democrata para superar algumas barreiras e construir sua vida política. Cortou o cabelo e fez algumas concessões comportamentais para fortalecer seu nome nas disputas eleitorais. Aliou-se a sindicatos e a grupos étnicos na luta contra corporações e fez da sua luta uma prioridade.
TEORIA 7
Harvey não teve muito tempo para registrar uma teoria sobre os combates que travava nas ruas. Como muitos políticos, ele priorizava a ação cotidiana, e não a reflexão acadêmica. Ele organizava passeatas, greves, fazia panfletagem, reunia as pessoas na sua loja de fotografia. Foi um grande ativista, e esse ativismo, por sua audácia e inovação, moldou novas formas de se pensar a luta pelos direitos LGBTQI+.
POLÍTICA 8
Incialmente Harvey tinha um caráter político conservador, mas, aos poucos, conforme assumiu sua própria sexualidade, se tornou uma liderança de diferentes pautas da esquerda – contra a guerra no Vietnã, a favor dos direitos das minorias, a defesa das pequenas empresas contra grandes corporações, a luta contra a especulação imobiliária. Candidatou-se diversas vezes à Câmara de São Francisco até ser eleito e fazer política institucionalmente por 11 meses até ser morto.
COMBATIVIDADE 9
A luta pelos direitos da comunidade LGBTQI+ foi travada dentro da democracia americana e incorporada às pautas identitárias, como o movimento feminista e movimento negro. Passeatas, festas ao ar livre, encontros, debates, influência midiática foram travadas para que a luta tivesse visibilidade e, no final, êxito.
INFLUÊNCIA 9
Harvey Milk canalizou para a política os anseios de uma camada da sociedade que era perseguida. Sua morte precoce privou a esquerda de uma voz aguda, com alta capacidade de articulação com sindicatos e outros movimento, mas o impacto de seu ativismo nos anos 1970 permanece vivo e forte, moldando a atuação política de milhões de jovens em todo o planeta.