Florestan Fernandes (1920-1995) percorreu uma trajetória incomum no país: filho de uma mulher trabalhadora e mãe solo, pode estudar apenas até a terceira série do ensino fundamental. Precisava ajudar no orçamento da casa, o que fez varrendo barbearias em troca de gorjetas, engraxando sapatos e trabalhando como auxiliar de alfaiataria antes de conseguir um posto de garçom.
Como garçom, a inteligência de Florestan chamava a atenção, e instigado por alguns jornalistas e intelectuais que frequentavam o Bar Bidu, no centro de São Paulo, foi fazer o curso de madureza. Do curso de madureza, entrou em Ciências Sociais na USP. Foi elevado a professor-assistente ao fim da graduação, fez mestrado e doutorado e tornou-se uma das maiores referências do pensamento social brasileiro.
Depois de Florestan, a sociologia nunca mais foi a mesma no Brasil. Florestan foi também, desde os anos 1940, um militante político, primeiro no Partido Socialista Revolucionário, liderado por Hermínio Sacchetta, que fora expulso do PCB por “trotskismo”. Combinando métodos funcionalistas, conceitos da sociologia alemã e o conhecimento marxista, Florestan publicaria, nos anos 1970, A revolução burguesa no Brasil, o que o inscreveu no rol dos grandes “intérpretes do Brasil”.
Entre 1986, foi eleito deputado pelo PT, atuando, na Constituinte, sobretudo no capítulo referente à educação. Em 1990, foi reeleito deputado para mais um mandato. Em 1995, ainda escrevia regularmente nos jornais, apesar da precária situação de saúde: nos anos 1970, durante uma transfusão de sangue, contraíra o vírus da hepatite C. Morreu em 22 de agosto, após um mal sucedido transplante de fígado.
Florestan é a mais nova carta do baralho Super-Revolucionários, que os sites Opera Mundi e Nocaute publicam em conjunto. Já foram publicadas as cartas de Pagu, Hugo Chávez, Rosa Parks, Vladmir Lênin, Clara Zetkin, Ernesto Che Guevara, Antonio Gramsci, Fidel Castro, Liudmila Pavlichenko, Luís Carlos Prestes, Frida Kahlo, Alexandra Kollontai, Bela Kun, Nelson Mandela, Mao Zedong, Simone de Beauvoir, Stálin, Marina Ginestà, Ho Chi Minh, Leon Trotsky, Olga Benario, Karl Marx, Salvador Allende, Tina Modotti, Carlos Marighella, Rosa Luxemburgo e Franz Fanon.
Com concepção e texto de Haroldo Ceravolo Sereza e desenho do artista plástico Fernando Carvall, as cartas do baralho Super-Revolucionários, numa análise séria, mas sem perder o humor jamais, atribuem “notas” à atuação desses grandes nomes da luta por um mundo mais justo e solidário.
Em 2020 ainda, alcançaremos um número suficiente de cartas para montar um jogo inspirado no conhecido Super Trunfo e publicar um livro com os cards e informações sobre esses heróis da resistência e da transformação.
As notas são provisórias e estão sujeitas a modificação.
REBELDIA 8
Florestan comemorou, nas ruas de São Paulo, em 1930, a chegada de Getúlio Vargas ao poder. Era uma criança trabalhadora, que confiava que uma mudança profunda viria. Muitas das expectativas foram frustradas, mas esse foi o primeiro gesto político de um pensador que militou dos anos 1940 até a morte, em 1995, após um transplante fracassado de fígado.
DISCIPLINA 10
Um dos primeiros trabalhos políticos de Florestan foi traduzir, para a editora Flama, do PSR, a obra Contribuição à crítica da economia política, de Karl Marx. A dedicação de Florestan aos estudos e à defesa de transformações sociais de caráter progressista fizeram dele uma referência de lealdade e de firmeza de posições.
TEORIA 10
Florestan foi um dos mais prolíficos e engajados pensadores do Brasil. Estudou a cultura indígena na pós-graduação, produziu e orientou pesquisas que puseram por terra a ideia de que o Brasil era um exemplo de democracia racial e enxergou a história do país numa perspectiva marxista.
POLÍTICA 7
Florestan demorou para encontrar um espaço político em que pudesse expressar sua combatividade e suas posições de forma efetiva. Durante a campanha em defesa da escola pública, nos anos 1960, encontrou-se no papel de intelectual público. Não foi um dos fundadores do PT, em 1980, mas ingressou no partido em 1986 e dele não saiu. Nem sempre se sentia confortável dentro da estrutura partidária, o que contornava produzindo textos densos sobre a conjuntura política que formaram muitos militantes.
COMBATIVIDADE 9
Como escreveu Antonio Candido, Florestan “tinha um alto senso de dever como cidadão e como socialista. Entrou nessa luta, sofreu com isso, foi punido. Nunca baixou a crista”.
INFLUÊNCIA 9
A influência de Florestan, autor de Circuito fechado, O que é revolução? e O negro no mundo dos brancos, entre muitos outros, não se limita à luta político-partidária. Florestan é um dos pais fundadores da sociologia profissional no Brasil e também um teórico que apoiou e influenciou o movimento negro, a teoria da dependência e a busca por alternativas socialistas no Brasil e na América Latina.